O Templo Interior e a Perfeição
Um Diálogo entre Kant, Nietzsche, Deleuze e Bourdieu sobre o Grau 14
do REAA
Por Hiran de Melo
O
Templo está silencioso. A Luz do Oriente cai suave, como se acariciasse as
pedras antigas. Quatro Mestres entram, cada um trazendo não apenas seu nome
simbólico — Kant, Nietzsche, Deleuze e Bourdieu — mas uma forma única de olhar
o mundo.
Eles
se sentam em círculo. Nada é dito por alguns instantes. Não por falta de
palavras, mas porque o Grau 14 — o ápice dos Inefáveis — exige respeito.
A
respiração do Templo muda.
E
o diálogo começa.
A Perfeição é Dever Modelado em
Pedra
Kant fala primeiro, sem
pressa, como quem acende uma vela:
—
Meus Irmãos, no Grau 14 o iniciado aprende que reconstruir o templo interior
não é um gesto simbólico apenas… é um compromisso. A Perfeição aqui não é ser
impecável, mas agir com autonomia moral, seguindo princípios que valham para
todos.
Ele
olha ao redor e sua voz se torna mais suave:
—
Quando o Nome Inefável se revela, não é um som… é uma certeza interior: agir
corretamente porque é o certo. A verdadeira consagração deste grau é
transformar liberdade em responsabilidade.
O Perfeito é o que Cria, Não o que Copia
Com
energia quase elétrica, Nietzsche se
inclina para frente:
—
Ah, Kant… teu dever é belo, mas incompleto. No Grau 14, o iniciado não apenas
descobre leis; ele cria caminhos. A reconstrução do templo não é reforma
conservadora — é obra nova.
Ele
ergue a cabeça, como quem desafia o céu:
—
O Nome Divino, quando ecoa dentro de nós, não é regra. É vontade de potência. É
a força que impulsiona o irmão a superar sua própria sombra e ascender a algo
maior.
E
conclui:
—
O Perfeito e Sublime não é o que obedece. É o que ousa ser autor da própria
luz.
Kant
respira fundo. Antes que a tensão cresça, Deleuze abre um sorriso, quase
brincalhão.
Perfeição é um Movimento, Não um Ponto
Final
—
Meus irmãos — diz Deleuze,
com um tom leve — talvez vocês dois estejam olhando para algo que não é fixo. O
Grau 14 não é um destino. É um devir, um processo.
Ele
faz um gesto circular com as mãos:
—
O templo interior não é uma construção pronta. É um organismo vivo, sempre
mudando. Ser Perfeito e Sublime é estar em constante criação. Não existe
“cheguei”. Há apenas movimento.
E,
quase num sussurro:
—
O Nome Inefável não se pronuncia. Ele acontece, silenciosamente, quando
reinventamos quem somos.
Nietzsche
concorda com a cabeça. Kant observa curioso. É então que Bourdieu ajusta sua
capa e rompe o clima místico com sua lucidez social.
O Grau 14 também é um Lugar na Ordem
Bourdieu
fala com firmeza:
—
Tudo isso é verdadeiro, mas incompleto se ignorarmos o contexto. O Grau 14 não
vive só dentro do indivíduo. Ele existe dentro de um campo simbólico. Na Ordem.
Ele
continua, quase pedagógico:
—
Ao atingir esse grau, o irmão recebe prestígio, responsabilidade e distinção.
Isso é capital simbólico. Os rituais, os títulos, os símbolos… tudo isso
legitima uma nova posição dentro da Maçonaria. O iniciado incorpora um novo habitus,
um novo jeito de ser e estar no mundo maçônico.
E
conclui:
—
Reconstruir o templo interior é também reconstruir o lugar social que o irmão
ocupa entre seus pares.
Deleuze
sorri. Nietzsche revira os olhos. Kant reflete em silêncio.
O
diálogo atinge seu ponto de maturidade.
A Harmonia das Quatro Luzes
O
Venerável Mestre ergue a mão, pedindo síntese.
Cada
Mestre resume sua luz:
Kant:
— O Grau 14 é a vitória da razão moral. O templo é erguido com dever e
autonomia.
Nietzsche:
— O Grau 14 é o nascimento do espírito livre. O templo é criação e coragem.
Deleuze:
— O Grau 14 é fluxo permanente. O templo é movimento, não forma fixa.
Bourdieu:
— O Grau 14 é também consagração social. O templo é reconhecimento e lugar na
Ordem.
O
Venerável encerra:
—
A Perfeição é múltipla. É ética, força, movimento e pertencimento. Cada irmão
deve aprender a usar essas quatro pedras para erguer seu próprio templo
interior.
O
silêncio volta. Mas agora é um silêncio cheio de sentido.
Conclusão — O Grau 14 como Caminho e Não
como Trono
O
encontro desses quatro Mestres revela que o Grau 14 não entrega um fim — abre
um caminho:
ü Kant
nos lembra do dever que disciplina.
ü Nietzsche
nos chama à força que supera.
ü Deleuze
nos inspira à mudança que recria.
ü Bourdieu
nos alerta para o lugar que ocupamos na Ordem.
Assim
o iniciado compreende que reconstruir seu templo interior é:
ü disciplinar-se,
ü superar-se,
ü reinventar-se,
ü e
reconhecer-se como parte de uma tradição viva.
Não
para ser perfeito no sentido humano…Mas para ser Perfeito e Sublime no sentido
maçônico: aquele que constrói a si mesmo, pedra após pedra, luz após luz.
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