Bebê Reborn - Uma reflexão filosófica e social

 

O Irmão Mestre Ailton Elisiário, Grau 33, publicou hoje, 21/05/2025, no ParaibaOnline.com.br uma análise profunda e instigante sobre o fenômeno dos bebês reborn — bonecas feitas com tanto realismo que se parecem muito com bebês de verdade. Ele chama atenção para comportamentos curiosos (e até preocupantes) de algumas pessoas que criam vínculos emocionais intensos demais com esses bonecos.

 

Há casos extremos: gente que faltou ao trabalho dizendo que a boneca estava com febre, que procurou padres para batizar a boneca, tentou tirar licença maternidade, buscou atendimento médico ou até foi à Justiça disputar a guarda da boneca com o ex-companheiro.

 

Para o Mestre Ailton Elisiário, essas atitudes mostram uma confusão entre o real e o imaginário, que pode indicar desequilíbrios emocionais. Embora os bebês reborn possam ter função terapêutica (em casos de luto, infertilidade ou solidão), o exagero na relação com eles pode ser prejudicial à saúde mental.

 

O assunto chegou até ao Congresso Nacional, onde tramitam projetos de lei para coibir o uso abusivo desses bonecos — como tentar conseguir benefícios destinados a crianças reais — e para oferecer apoio psicológico a quem demonstrar apego excessivo. A conclusão de Elisiário é clara: o problema não está na boneca em si, mas em quem projeta nela uma realidade que não existe, o que mostra uma sociedade que, cada vez mais, se refugia em ilusões para fugir da dor e da verdade da vida.

 

Considero relevantes as questões levantadas pelo Mestre Ailton Elisiário. Assim sendo, recomendo aos estimados irmãos, além da leitura do artigo, que aprofundemos nossas reflexões à luz do pensamento de Heidegger.

 

1. O ser humano e o esquecimento de si

 

Heidegger, filósofo alemão, nos ensina que o ser humano — o que ele chama de Dasein — é aquele ente capaz de refletir sobre o próprio ser. Mas, na correria do dia a dia, acabamos vivendo de forma automática, fazendo o que "todo mundo faz", sem pensar profundamente sobre o que somos e por que estamos aqui.

 

No caso do bebê reborn, vemos justamente isso: ao invés de enfrentar a dor e a finitude, algumas pessoas escolhem se refugiar numa fantasia — um boneco que representa um novo começo, um "renascimento", mas que, na verdade, é uma fuga da realidade da vida e da morte.

 

2. A técnica e a perda da realidade

 

Heidegger também critica o modo como a tecnologia moderna transforma tudo em objeto disponível e manipulável. O bebê reborn é um bom exemplo disso: é uma reprodução tão perfeita da aparência humana que, para alguns, chega a substituir o real. O problema é que, nesse processo, os laços humanos vão sendo trocados por vínculos com objetos, o que empobrece nossa experiência de mundo.

 

3. O perigo de esquecer o ser

 

Mais do que a tecnologia em si, o grande risco — segundo Heidegger — é esquecer o ser, ou seja, deixar de refletir sobre quem somos e o que estamos vivendo. Quando passamos a tratar bonecos como se fossem seres humanos, como mostram os projetos de lei em discussão, corremos o risco de misturar representação com realidade, e isso indica uma crise existencial mais profunda.

 

4. Um chamado à autenticidade

 

Heidegger não propõe que reprimamos ou julguemos essas pessoas. Pelo contrário: ele defende que devemos buscar uma vida autêntica, assumindo nossa dor, nossa finitude, nossa liberdade — sem ilusões. Isso não significa negar o uso terapêutico de bonecas reborn, mas lembrar que elas não substituem o sentido verdadeiro da existência.

 

Por enquanto

 

O fenômeno dos bebês reborn, quando visto com os olhos de Heidegger, vai muito além de uma curiosidade social ou psicológica. Ele mostra como, diante da dor e da perda, muitos preferem viver uma realidade fabricada, fugindo do enfrentamento com o que é mais essencial. Essa fuga pode parecer confortável, mas é justamente o que Heidegger considera o maior risco do nosso tempo: perder o contato com o ser, com a verdade da existência.

 

Mas também há aí uma oportunidade de despertar. Se escolhermos olhar para dentro, pensar com profundidade, e assumir nossa jornada com lucidez, talvez possamos redescobrir o verdadeiro sentido de ser no mundo — com os outros, com a realidade, e com a coragem de sermos nós mesmos.

 

Poeta Hiran de Melo

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