Oscilação


Oscilação

Você ainda acredita no amor,

quando sabe que tudo que oscila

morre no final?

Eu sim.

Ainda acredito.

Mesmo sabendo

que um dia o ritmo cessa,

que a curva se desfaz,

que o pulso silencia. Mas veja:

o oscilador não morre porque errou —

ele morre porque viveu.

Porque respondeu a um impulso.

Porque teve energia,

forma,

ritmo.

Porque se moveu.

Se não houvesse amor,

não haveria sequer oscilação.

Tudo seria estático:

sem impulso,

sem retorno,

sem poesia.

Na física,

quando não queremos que a oscilação morra,

o que fazemos?

Reabastecemos.

Introduzimos uma força periódica,

alimentamos o sistema com intenção.

Chamamos isso de

oscilador forçado em regime permanente.

E eu gosto de pensar

que o amor é assim.

Ele morre se for deixado à própria sorte.

Mas se o alimentarmos —

com presença,

com cuidado,

com vontade —

ele encontra um novo equilíbrio,

uma nova frequência,

uma nova vida.

O problema não é que tudo que oscila morre.

O problema é esquecer

que podemos ser

a força que sustenta a oscilação.

Mesmo em sistemas amortecidos,

há ressonância.

Há encontros que vibram.

E fazem vibrar de novo.

Então sim,

mesmo como física,

mesmo vendo a entropia crescer,

eu acredito no amor.

Porque ele é

a perturbação mais bonita do equilíbrio.

E talvez,

a única oscilação

que vale a pena manter viva,

mesmo quando o mundo inteiro

tenta amortecê-la.

Thalita Farias Hernesto do Rego

 

Breves considerações sobre o Oscilação da Thalita.

Por Hiran de Melo

A poesia apresentada constrói-se como um delicado campo de forças, onde ciência e afeto não se opõem, mas se reconhecem como expressões distintas de um mesmo impulso vital. Ela não busca verdades eternas nem consolos metafísicos: ela afirma o devir, a transitoriedade e a intensidade como critérios de sentido.

O motivo central da oscilação não é apenas um recurso didático da física, mas uma imagem simbólica da vida enquanto movimento. Tudo o que vive oscila porque está atravessado por forças, por tensões que se chocam, se equilibram provisoriamente e, inevitavelmente, se transformam. A morte da oscilação não aparece como fracasso moral ou erro de cálculo, mas como consequência necessária de ter respondido a um impulso. Aqui, a poesia afirma a vida não apesar de sua finitude, mas justamente por causa dela. Viver é aceitar o risco do esgotamento, do silêncio posterior ao pulso — e ainda assim mover-se.

Nesse ponto, o amor surge não como promessa de permanência, mas como intensificação do existir. Ele não nega a entropia, não ignora o amortecimento, não se ilude com eternidades. Pelo contrário: conhece os limites e, mesmo assim, decide investir energia. Amar é interpretar a vida como algo que merece ser sustentado, reabastecido, mesmo sabendo que não há garantias finais. Essa atitude ecoa uma ética afirmativa: não se trata de salvar o amor da morte, mas de justificar sua existência pelo modo como faz vibrar.

A hermenêutica aqui não busca um sentido oculto por trás do poema; ela acompanha o jogo das forças que nele se expressam. O amor é apresentado como força ativa, capaz de criar novos equilíbrios, novas frequências. Quando o eu poético afirma que “podemos ser a força que sustenta a oscilação”, desloca-se da posição de vítima do destino para a de intérprete criador. Não se nega o mundo como ele é; responde-se a ele com vontade, presença e cuidado. Isso não elimina o sofrimento, mas o reinscreve como parte do movimento, não como sua negação.

Há também uma recusa do ideal estático. Um mundo sem amor seria um mundo sem oscilação, sem retorno, sem poesia — um mundo morto em sua falsa estabilidade. A poesia, assim, celebra a instabilidade como condição da criação. Mesmo em sistemas amortecidos, há ressonância: encontros que, ao se chocarem, despertam novas vibrações. Essa imagem traduz uma confiança no caráter relacional da vida, onde nada vibra sozinho e onde toda intensidade nasce do encontro entre forças.

Ao final, o amor é chamado de “a perturbação mais bonita do equilíbrio”. Não se trata de restaurar uma ordem perdida, mas de aceitar a perturbação como fonte de sentido. Amar o dia, amar a poesia, amar o mundo — mesmo quando ele tenta amortecer — é escolher a afirmação em vez da resignação. É dizer “sim” ao movimento, ao risco e à beleza efêmera da oscilação.

Assim, esta poesia não consola: ela fortalece. Convida-nos a amar não porque tudo permanece, mas porque tudo passa — e porque, enquanto passa, pode vibrar com intensidade suficiente para justificar o próprio existir.

Anexo 1 – A respeito da ilustração

No conjunto, a imagem traduz visualmente a ideia central do poema:
o amor como perturbação bela do equilíbrio, como força que oscila, se desgasta, se transforma — mas que, enquanto vibra, sustenta o sentido do existir. Não há promessa de permanência; há intensidade. Não há negação do fim; há afirmação do movimento.

É uma imagem que não explica — faz sentir.

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