Ninguém nos ensina a esquecer

Por Hiran de Melo

Há lições que a vida se recusa a dar. Entre elas, a mais misteriosa: a de esquecer.

Esquecer seria talvez uma forma de morrer um pouco — e por isso, o coração resiste. O tempo, esse grande mestre, até tenta suavizar as bordas do que nos fere, mas nunca apaga o traço do que nos marcou. Há pessoas que passam como o vento — refrescam, tocam e seguem. Outras, porém, ficam. Ficam nos gestos que repetimos sem notar, nas músicas que nos surpreendem de repente, nas lembranças que brotam quando o silêncio se faz mais denso.

Ninguém nos ensina a esquecer, porque esquecer seria negar o aprendizado das dores e dos afetos. Mesmo aqueles que julgamos ter nos feridos cumprem uma função secreta no desenho da alma — são eles que nos ensinam os limites do amor, a medida da perda, o valor do perdão.

E quanto aos que nos fizeram o bem, esses se tornam eternos. Vivem em nós, mesmo ausentes, mesmo distantes, como uma melodia que o tempo não consegue desafinar.

Amar é aprender a lembrar sem sofrer — é compreender que o que ficou faz parte do que somos.

Porque, no fundo, tudo o que amamos continua nos habitando.

Talvez o esquecimento não seja dom dos humanos.

Talvez estejamos condenados, ou abençoados, a lembrar — e, lembrando, continuar amando, mesmo em silêncio, mesmo depois.

PS - Em atendimento ao mote do irmão e amigo Zé Carlos

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