Eu Poderia Ser Tudo —
Menos Sua: Uma Resistência
à Posse
Por Hiran de Melo
O poema “Eu Posso Ser Sua
Mãe”, de Sofia Isella, é um chamado à transformação. A voz que nele pulsa não
se acomoda em rótulos nem se deixa capturar por papéis fixos. Ela se desdobra
em possibilidades — mãe, amiga, ferida, pureza, prostituta, sonho, verdade — e,
ainda assim, afirma com firmeza: “menos sua”. Essa recusa não é negação do
afeto, mas afirmação da liberdade. É o grito de quem escolhe existir em
movimento.
Inspirada por uma visão que
dialoga com Jean-Yves Leloup e Martin Heidegger, o poema revela o ser humano
como mistério em fluxo. Leloup nos lembra que somos corpo, alma e espírito —
uma interseção viva entre o visível e o invisível. Heidegger nos convida a
pensar o ser como aquele que se pergunta sobre si mesmo, como Dasein: o ente
que habita o mundo com consciência da própria finitude.
A repetição de “eu poderia
ser” funciona como abertura para o vir-a-ser. A mulher que fala não se define
por funções, mas por aquilo que escapa à definição. Ela é presença e ausência,
entrega e resistência, carne e linguagem. Representa o feminino em sua potência
— não como gênero, mas como princípio de acolhimento e ambiguidade, capaz de
curar e ferir.
O poema também denuncia a
normose — esse estado de normalidade doentia que aprisiona em padrões
socialmente aceitos, mas espiritualmente estéreis. A voz poética resiste ao
enquadramento, exige ser vista como mistério, não como posse. Oferece tudo, mas
não se entrega como coisa.
E é justamente aí que o
texto ilumina: ao lembrar que viver com autenticidade é aceitar a
impermanência, habitar as contradições, permitir que o ser se revele nas
entrelinhas. Não há respostas prontas. Há coragem. Há vulnerabilidade. Há
movimento.
Que este poema inspire você
a ser exemplo — não de perfeição, mas de presença. Que sua vida seja uma canção
familiar com palavras novas. Que você possa ser tudo, menos aquilo que o mundo
quer aprisionar. Que você transforme, ilumine, inspire. Porque ser, afinal, é
estar em relação — mas nunca em prisão.
Veja
a letra do poema no link
https://www.letras.mus.br/sofia-isella/i-can-be-your-mother/traducao.html
Assista o
vídeo no link:
Comentários
Postar um comentário