Um Canto ao Amor que Transcende
Poeta Hiran de Melo
“Nada Vai Mudar Meu Amor Por Você” (*) não é
apenas uma melodia bonita — é como um abraço que dura, que acolhe, que revela.
Ela fala de um amor que não se abala com as voltas do mundo, que não exige
mudanças, que não se mede em tempo. E isso me fez pensar sobre o amor que vai
além do romance: o amor ágape.
O amor
como repouso e encontro
Sabe aquele momento em que você encontra alguém e sente que
pode finalmente respirar fundo? É disso que essa música fala. O eu lírico não
está fazendo drama quando diz “não quero viver sem você” — ele está entregando
sua verdade. O outro se torna parte do seu mundo, não como posse, mas como
presença. E é nessa entrega que o amor se transforma em morada: um lugar onde o
ser pode existir por inteiro.
Tempo que se vive, não se conta “Com você eu vejo o pra
sempre tão claramente” — essa frase me marcou. Não é sobre prometer eternidade,
mas sobre viver o agora com tanta intensidade que parece eterno. O amor, aqui,
não se mede em dias ou anos, mas em presença. É aquele tipo de sentimento que
faz o tempo parar, que transforma o instante em algo cheio de sentido.
A falta
que nos move
A gente costuma pensar que amar é encontrar alguém que nos
completa. Mas o amor verdadeiro nasce da falta — daquela sensação de que algo
está sempre escapando. Quando o eu lírico canta “eu não quero viver sem você”,
ele está falando daquilo que parece faltar em nós e que enxergamos no outro. O
amor, então, é uma tentativa de costurar esse vazio, mesmo sabendo que ele
nunca se fecha por completo. E isso não é fraqueza — é o que nos torna humanos.
A
promessa que resiste
O refrão, repetido tantas vezes, é mais do que insistência. É
resistência. “Nada vai mudar meu amor por você” soa como uma promessa contra o
tempo, contra a instabilidade da vida. E repetir é uma forma de manter vivo o
que nos toca, mesmo quando tudo ao redor se transforma. Amar é também
reafirmar, mesmo diante da mudança.
Amar o
outro ou amar o reflexo? 
“Eu te amo exatamente do jeito que você é” — essa frase é
linda, mas também profunda. Porque amar não é moldar, é acolher. É enxergar o
outro com clareza e ainda assim escolher ficar. Às vezes, o amor é um espelho:
vemos no outro aquilo que gostaríamos de ser ou aquilo que falta em nós. E tudo
bem. Amar também é se encontrar no desejo, e aceitar que ele tem limites.
O amor
como guia, não como resposta 
A imagem do amor como “estrela-guia” é poética, mas também
revela uma fantasia: a de que o amor resolve tudo. Só que, no real, ele não dá
todas as respostas. Ele abre perguntas. Ele inquieta. Ele nos faz olhar para
dentro e para fora ao mesmo tempo. E é nessa inquietação que mora a beleza de
amar.
O poder
do amor ágape 
No fim das contas, essa canção fala de um amor que quer ser
eterno, mas que carrega a fragilidade do nosso desejo. Um amor que insiste,
mesmo sabendo que tudo muda. E talvez seja por isso que ela toca tanta gente —
porque o amor ágape não exige, não cobra, não prende. Ele oferece. Ele
permanece. Ele acredita. E como disse um pensador, amar é oferecer o que não se
tem a alguém que talvez nem queira. E mesmo assim, continuar oferecendo.
Esse é o amor que transforma. Que cura. Que nos faz
mais inteiros. E que, mesmo em silêncio, continua dizendo: nada vai mudar meu amor por você.
(*) GEORGE BENSON -
NOTHING'S GONNA CHANGE MY LOVE FOR YOU (1985) -  legendado.
Composição: Michael Masser / Gerry
Goffin
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