O Ternário Maçônico e a Linguagem da Vida - Um Convite à
Pertença
Por Hiran de Melo
Pacíficos e Amados Irmãos,
Recomendo com reverência a
leitura da peça de arquitetura O Ternário Maçônico e a Arquitetura da Vida,
escrita por Luiz Carlos da Silva (LuCaS). Mais do que um ensaio simbólico,
trata-se de uma abertura ao mistério — uma forma de desvelamento do ser,
como diria Martin Heidegger. O texto não apenas une ciência e espiritualidade,
mas nos convida a habitar o mundo de forma mais autêntica, reconhecendo que o
número três, tão presente na tradição maçônica, é também uma estrutura
ontológica que revela o modo como o ser se manifesta. Lembro que Heidegger não
busca explicar o mundo como um conjunto de fatos, mas sim revelar o modo como o
ser se mostra — ou se oculta — na experiência humana
O Ternário como Estrutura do Ser
Na Maçonaria, o ternário —
sabedoria, vontade e inteligência; pensamento, ação e sentimento; espírito,
alma e corpo — não é apenas uma representação simbólica. Ele é uma forma de estrutura
originária, aquilo que Heidegger chamaria de uma forma de ser-no-mundo.
A tríade não organiza o mundo como um sistema lógico, mas revela o modo como o
ser se dá: em equilíbrio, em tensão, em plenitude.
A célula, com seus três
elementos — membrana, citoplasma e núcleo — não é apenas uma unidade biológica.
Ela é um templo do ser, uma metáfora viva da existência. Cada parte
cumpre uma função, mas juntas revelam o que Heidegger chamaria de essência,
não como substância, mas como aquilo que se mostra no desvelamento. A célula
não é apenas algo que está aí — ela é algo que fala, que revela.
A Linguagem da Vida como Morada do Ser
Heidegger nos lembra que “a
linguagem é a morada do ser”. E o texto de LuCaS nos mostra que a vida fala uma
linguagem ternária — três etapas na fotossíntese, três fases na respiração
celular, três tipos de RNA, três bases por códon genético. Essa repetição não é
casual: é o ser se dizendo, se revelando, se habitando.
O códon UAG, como símbolo de
parada, quando lido ao contrário, evoca o “Grande Arquiteto do Universo”.
Heidegger não se interessaria pela literalidade científica dessa leitura, mas
pela sua capacidade de abrir sentido. O fim, assim como o início, é um limiar
— um ponto de passagem onde o ser pode se mostrar. O códon não apenas encerra
uma sequência genética; ele desvela um limite, e todo limite é uma
possibilidade de revelação.
Simbolismo como Caminho de Habitação
Kennyo Ismail nos lembra que
o simbolismo maçônico deve ser vivido. Heidegger diria que devemos habitar o
símbolo, não como algo externo, mas como uma forma de ser-no-mundo. O
ternário está nas moléculas, nos rituais, nas estruturas do universo — mas
sobretudo, está na forma como o ser se mostra a nós.
Habitar o mundo com olhos
simbólicos é aprender a ver o ser em sua manifestação. É escutar o silêncio do
templo, perceber o gesto ritual como um modo de ser, e reconhecer que
cada célula, cada pedra, cada palavra, é uma morada do mistério.
O Ternário como Desvelamento
Heidegger nos ensina que o
ser não é algo que se possui, mas algo que se revela. O ternário, nesse
contexto, é uma estrutura de desvelamento. Ele não explica o mundo — ele
o abre. Ele não organiza a existência — ele a revela. E nesse
revelar, percebemos que até na menor parte da vida, habita o Criador.
Este é o convite: viver o
simbolismo, contemplar o ternário, e reconhecer que a linguagem da vida é, no
fundo, uma linguagem do ser. Ser maçom, então, é aprender a escutar essa
linguagem, a habitar o mistério, e a pertencer — não apenas à Maçonaria, mas ao
próprio desvelamento da existência.
Hiran de Melo – Presidente da Excelsa Loja de
Perfeição “Paz e Amor”, corpo filosófico da Inspetoria Litúrgica do Estado da
Paraíba, Primeira Região, do Supremo Conselho do Grau 33 do REAA
da Maçonaria para a República Federativa do Brasil. 
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