O Abraço Que Transforma - Um Chamado
à Vida em Comunhão
Por Hiran
de Melo
Há gestos
que nos atravessam. Que nos tocam tão fundo que mudam nossa forma de ver o
mundo. Foi assim que me senti ao conhecer a história de Anton, compartilhada
pela querida amiga Samara Hamad Pereira Gomes. Um homem marcado pela dor, que
encontrou no abraço não apenas consolo, mas uma chance real de continuar. E não
falo de qualquer abraço — falo daquele que nasce da alma, que acolhe sem julgar,
que une sem exigir. Jean-Yves Leloup chama isso de “sacramento da presença”. E
eu entendi: quando dois corpos se encontram com verdade, ali há algo divino.
Anton, ao
abraçar, não apenas sobreviveu. Ele escolheu viver com o outro, no outro, pelo
outro. Esse gesto silencioso foi mais do que resistência — foi uma epiclese, uma
invocação do Espírito. Transformou dor em comunhão, medo em confiança,
separação em unidade. E isso me fez crer que, mesmo nos dias mais escuros, há
gestos que acendem luz dentro da gente.
Leloup nos
ensina que espiritualidade não é fuga da dor, mas coragem para atravessá-la. A
tragédia de Anton não foi negada, mas transfigurada. O abraço que ele recebeu e
ofereceu tornou-se espaço de esperança — uma esperança que não ignora a cruz,
mas a atravessa com lucidez e compaixão. E nesse gesto, o humano se abre ao
divino, e o divino se revela no humano.
Essa
história me fez pensar no quanto precisamos uns dos outros. Leloup fala sobre
interdependência: “Eu sou porque tu és”.
E é verdade. A gente não se salva sozinho. A comunhão que Anton viveu me
ensinou que sobreviver é também se deixar tocar, se deixar cuidar. É reconhecer
que o outro é parte do nosso caminho. Quando nos abraçamos com sinceridade,
renascemos — não só no corpo, mas na alma.
A graça...
essa palavra ganhou outro sentido para mim. Leloup diz que ela é um presente
que não se explica, só se recebe. E foi isso que Anton viveu. O abraço que o
alcançou foi puro amor, sem cobrança, sem condição. E ali, naquele gesto,
estava a justiça verdadeira — aquela que não castiga, mas restaura. Que vê a
dor e responde com compaixão. Que reconhece a dignidade de cada ser, mesmo
quando tudo parece perdido.
Hoje, quando
penso no abraço de Anton, vejo mais do que uma história bonita. Vejo um
chamado. Um convite à comunhão, à presença, à espiritualidade que não se
esconde, mas se revela no cotidiano. Leloup me ensinou que o divino não está
longe — está no gesto simples, no olhar atento, no abraço sincero. E se Anton
sobreviveu, foi porque escolheu sair do isolamento e se abrir à comunhão.
E se hoje
compartilho tudo isso, é porque Samara, com sua sensibilidade generosa, se
lembrou de mim. Foi ela quem me trouxe essa história, como quem oferece uma luz
no meio do caminho. E por isso, minha gratidão se mistura à inspiração — porque
há amizades que nos despertam, que nos devolvem à essência, que nos fazem
acreditar de novo.
Texto de referência: 
https://aberturaaodialogo.blogspot.com/2025/09/uma-historia-linda-de-doacao-e.html
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