Trago um abraço ao teu
coração, viu?
Alma,
imenso salão vazio
A alma, tantas vezes, é um vasto salão vazio. Nele,
ecoam passos antigos, memórias esquecidas, vozes que já partiram. O silêncio
não é ausência, mas presença latente, como se as paredes invisíveis aguardassem
o gesto que as preencha.
Solidão,
a última a sair
Na festa da vida, a solidão é sempre a última
convidada a se retirar. Ela permanece até que os risos se apaguem, até que as
músicas silenciem. Observa, paciente, como a guardiã de uma verdade: que só se
sabe do valor da presença quando se experimenta a falta.
Nunca
fartos da presença que nos enche
Há uma sede que nada sacia. Não de pão, nem de
vinho, mas de encontro. Nunca nos cansamos da presença verdadeira, aquela que
ilumina os salões da alma, que transforma o vazio em dança, o eco em canto, a
espera em gratidão.
Precisamos
nos encher
Encher-nos não de coisas, mas de instantes. De
olhares que repousam sem pressa. De mãos que se encontram sem medo. De um
abraço demorado — esse gesto simples e infinito que suspende o tempo e devolve
à alma a sua música primeira.
Pois o abraço é o contrário da solidão: é a
presença que não apenas ocupa o espaço, mas o transfigura em lar.
Gelda
Moura
Análise filosófica e poética
Por Hiran
de Melo
O texto de Gelda Moura toca de maneira delicada uma
experiência que todos já sentimos: a alma como um salão vazio. Há momentos em
que esse vazio parece imenso, habitado apenas por ecos de memórias antigas e de
vozes que já não voltam. Mas o texto nos lembra que esse silêncio não é
abandono; é uma presença latente, quase como uma espera. A alma, nesses
instantes, não está morta, apenas aguarda o gesto certo, um sopro de sentido
que a preencha.
Quando
fala da solidão como “a última a sair”, a autora traduz em imagem algo muito
verdadeiro. A solidão tem essa paciência quase cruel: ela fica depois que todos
os sons cessam. Mas, em vez de enxergá-la como inimiga, podemos vê-la como
mestra. É ela quem nos mostra o valor do encontro, quem nos ensina que a
presença só brilha porque, antes, experimentamos a falta.
O coração
do texto, porém, está na necessidade de nos enchermos — não de coisas, mas de
instantes. É um convite simples e profundo: guardar olhares que não fogem, mãos
que não hesitam, e, sobretudo, os abraços demorados. Porque o abraço é esse
milagre pequeno que suspende o tempo. Ele não apenas ocupa o espaço da alma,
mas o transforma em lar.
Lendo
essas palavras, é impossível não pensar nas vezes em que um abraço nos salvou —
de nós mesmos, da pressa, da tristeza. É nesses gestos simples que o vazio
encontra sua música, que a solidão se retira em silêncio, deixando no lugar uma
presença que não se consome.
Bruxo,você a cada reflexão se supera.Grato por transformar meu humilde sentir,em tão grandioso texto.Cheio de explicações e sentido,que só quem já sentiu...Sente.Obrigada!
ResponderExcluirParabéns a poetisa Gelda Moura pelo lindo texto e ao poeta Hiran de Melo pela brilhante análise. 👏👏💕💕 Josivan Campos Brasil
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