A Verdade e a Autenticidade

Eu li o texto do irmão Luís e me veio a seguinte reflexão: as vezes algumas pessoas me enviam fichas de cadastro para eu me filiar em alguns partidos políticos. Quando a ficha não é do PCdoB aí eu envio uma ficha do meu Partido.

Alguns me respondem, mas eu sempre respeito a opinião deles; todavia eu mantenho a minha opinião pois é a que eu vivo. Assinar uma ficha de filiação não significa absolutamente nada quando a pessoa não é aquilo que diz ser.

Ora, a Verdade é a Verdade e a retórica é a retórica. Então não basta ir ao Cartório e se filiar a um partido pois a Verdade é o espelho daquilo que a pessoa realmente é.

Então para eu não me colocar na retórica, posso dizer que são poucos a afirmar: Sou Comunista.

Jivago de Azevedo Chaves – Mestre Maçom

 

Breve Consideração

Por Hiran de Melo

 

Segue a análise focada na questão da Verdade e da Autenticidade segundo Arthur Schopenhauer, filósofo preferido do Mestre Jivado.

1. Introdução – O núcleo do problema

O texto do Irmão Jivago apresenta uma distinção clara entre Verdade e Retórica:

Verdade aquilo que corresponde ao que a pessoa realmente é refletida na conduta e no caráter.

Retórica discurso ou aparência que não necessariamente expressa a essência.

Schopenhauer, filósofo conhecido por sua visão crítica e realista da natureza humana, oferece ferramentas conceituais para aprofundar essa reflexão.

2. Schopenhauer: essência e aparência

Para Schopenhauer, a realidade se divide em:

Vontade a essência íntima, a força irracional e profunda que move o ser.

Representação o mundo das aparências, como as coisas se mostram aos olhos dos outros.

Aplicando ao texto: a ficha de filiação partidária pertence ao plano da representação; é um símbolo externo que pode ou não corresponder à Vontade real do indivíduo.
A vida coerente com o que se afirma ser pertence ao plano da essência.

3. Verdade como fidelidade à essência

Para Schopenhauer, a verdade não é apenas uma afirmação correta, mas uma coincidência entre o que se é na essência e o que se manifesta ao mundo.

Quando Jivago diz “a Verdade é o espelho daquilo que a pessoa realmente é”, ele rejeita o autoengano e a ilusão — dois elementos que Schopenhauer vê como comuns na vida social.
Grande parte das pessoas, segundo o filósofo, vive mais preocupada com a opinião dos outros do que com a fidelidade ao próprio ser.

4. A retórica como máscara

Na obra A Arte de Ter Razão, Schopenhauer descreve como a retórica pode servir para vencer discussões e proteger aparências, sem compromisso real com a verdade.

No contexto do texto:

Retórica assinar fichas, fazer declarações e sustentar discursos que não se refletem no modo de vida.

Verdade viver de modo que, mesmo sem declarações, as ações revelem a coerência do indivíduo.

5. Autenticidade como resistência à ilusão

A autenticidade, aqui, é a coragem de viver de acordo com a própria essência, mesmo que isso seja socialmente impopular.
Quando o Mestre Jivago afirma que “são poucos a dizer: Sou Comunista” e viver de acordo com isso, está apontando para um fenômeno que Schopenhauer veria como natural: a dificuldade de sustentar publicamente a verdade quando ela vai contra a corrente dominante.

6. Conexão com a vivência maçônica

Dentro da Maçonaria:

O juramento, tal como a ficha partidária, é uma representação.

O valor real está em viver, no mundo profano, os princípios que se professam no Templo.

Assim como no exemplo político, um maçom só é autêntico se sua vida for o reflexo dos ideais que afirma sustentar.

7. Síntese final

Na ótica schopenhaueriana:

Verdade fidelidade à essência; viver de modo que as ações revelem o que realmente se é.

Retórica forma vazia; aparência sem essência, discurso que não traduz a vida real.

Autenticidade alinhar a Vontade (essência) à Representação (aparência), rompendo com as máscaras que a sociedade incentiva.

O texto do Irmão Jivago é, assim, um chamado à coerência: não basta proclamar filiação ou identidade; é preciso viver de modo que não haja distância entre o que se é e o que se mostra.

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