Leve-me, sou leve

 

Por Hiran de Melo

 

O que carrego, temporário ou não

E onde carrego, na alma ou na mão

É sempre um peso, peso, peso

O que deixo e onde deixo

É sempre leve, leve, leve

Leve, leve, é sempre leve

 

 

Leve-me para você

Mas não me carregue

Leve-me com você

Não se sobrecarregue

 

Não pense o que fazer comigo

Faça, faça.

Não pense em o que fazer de mim

Abrace, abrace.

 

Leve-me, sou leve

Leve-me, sou leve

Sou leve, leve, leve

Sou leve, leve, leve-me.

Sou leve, leve, leve

Sou leve, leve, leve-me.

 

Composição -  Hiran de Melo

Intérprete: Boy

Arranjos e Gravação: Studio Washington Boy

Faixa 01 do Álbum Caminhando nas nuvens – 2025

Vídeos:

Faixa 02 do Álbum Caminhando nas nuvens – 2025

 

Instrumental

 

Anexo

 

Depoimento do Poeta: Leve-me, sou leve

 

Este meu poema é um sussurro delicado entre o ser e o outro, entre o peso da existência e a leveza do amor. Lê-se como um sopro filosófico em forma de súplica amorosa, onde cada verso ecoa uma tensão entre o efêmero e o essencial — entre o que se carrega e o que se deixa.

 

“Leve-me, sou leve” — o pedido é quase um mantra, uma tentativa de convencimento, mas também uma constatação: o ser que fala não é isento de peso, mas oferece-se como presença que não pesa. Um paradoxo profundamente humano: todos carregamos pesos, mas ansiamos ser leves para o outro.

 

Há uma consciência existencial no verso:

 

“O que carrego, temporário ou não / E onde carrego, na alma ou na mão / É sempre um peso”

 

Aqui, reconheço o fardo do ser — emocional, físico, histórico. Carregamos dores, memórias, esperanças, perdas. E mesmo que mudem de lugar, são sempre pesos. Mas, curiosamente:

 

“O que deixo e onde deixo / É sempre leve”

 

Como se a ausência fosse mais leve do que a presença. Talvez a ausência seja mais suportável do que a incompreensão do que se é.

 

O amor neste poema não é posse. O eu lírico não quer ser carregado, quer ser levado. Há uma diferença sutil e profunda aqui: quem carrega, impõe um esforço; quem leva, convida para a jornada. O amor aqui é convite, não prisão.

 

“Não pense o que fazer comigo / Faça. / Não pense em o que fazer de mim / Abrace”

 

A filosofia se mistura à ternura. A razão cede espaço à ação. O poeta diz: não racionalize o afeto — viva-o. O pensamento que hesita paralisa, o amor que age liberta. "Abrace" — um gesto que não exige explicação, apenas entrega.

 

E então volta-se ao título, ao nome:

 

“Leve-me, sou leve / Leve-me, sou leve”

 

O apelo se renova. Não por fragilidade, mas por escolha. A leveza aqui não é ausência de profundidade, mas recusa da dor desnecessária. É uma leveza que ecoa o pensamento de Italo Calvino, que via na leveza não um traço de superficialidade, mas uma virtude da inteligência emocional e poética diante do peso do mundo.

 

Em suma, este poema é um chamado amoroso que ecoa como uma filosofia da leveza: ser com o outro, sem pesar no outro. Carregar o que é nosso, deixar leve o que fica no caminho. Um amor que não sufoca, mas abraça. E um ser que, ao oferecer-se leve, revela o quanto compreende a gravidade de existir.

 

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