A poesia discreta de um violão no calçadão


Por
Hiran de Melo

 

A mensagem do Irmão Ailton Elisiário, Grau 33, publicada hoje, 09/06/2025, no ParaibaOnline.com.br, sobre a partida de Biu do Violão, vai além de uma simples homenagem: é uma crônica sensível sobre como a memória ganha morada nos rostos e ruas de Campina Grande. Ao contar a história de Biu, Ailton constrói um retrato afetuoso de um personagem real que parece saído de um velho samba — figura anônima que virou símbolo, como nas letras mais humanas do poeta Carlos Jobim.

 

1. O homem de muitos nomes

 

A dúvida sobre seu nome — Severino? Carlos? Carlos Bill? — lembra aqueles personagens que parecem inventados pelo povo, mas que existiram de verdade. Biu não era só um nome; era apelido de rua, era rosto conhecido. Como todo bom personagem popular, era difícil saber onde acabava o homem e começava a lenda. E é justamente essa confusão que o torna tão próximo de todos: Biu era um só, e ao mesmo tempo, era múltiplos.

 

2. A poesia dos encontros

 

Ailton lembra que Biu era mais conhecido por estar presente do que por suas confidências. E isso diz muito. Era uma figura constante, dessas que a gente vê todo dia e sente falta quando some. Nunca foi necessário saber tudo sobre ele — bastava cruzá-lo no calçadão, com seu violão e sua conversa boa sobre música e política. Um homem simples, cuja vida foi feita de gestos cotidianos: lustrar sapatos, empurrar carroça, tocar canções. E nisso tudo, havia uma forma sutil e encantadora de existir.

 

3. O Calçadão como cenário e alma

 

O Calçadão da Cardoso Vieira, onde ele tanto circulava, aparece no texto como mais que um espaço físico: é o pano de fundo da vida de Biu e de tantos outros. Como num filme em looping, ele voltava ali com seu violão, dedilhando Roberto Carlos e reconhecendo gente pelo nome. A frase do poeta Astier Basílio, que diz que “a alma do Calçadão inicia em Biu do Violão”, é mais do que homenagem — é constatação. Aquilo era casa e palco. E Biu, seu personagem mais cativo.

 

4. E o povo virou memória

 

No fim, Ailton o coloca ao lado de outros tipos inesquecíveis da cidade, como Zé Bonitinho e Pedro Cancha. Não por folclore barato, mas por reconhecer que há grandeza em quem vive perto do chão. A frase que Biu sempre dizia — “o resto é paia” — virou, aqui, uma espécie de despedida filosófica. Simples, direta, verdadeira. Como ele era.

 

Por enquanto

 

O texto de Ailton é uma despedida carregada de afeto e respeito. Sem exageros, com delicadeza, ele ajuda a eternizar uma figura que já morava na memória viva de Campina Grande.

 

Como nas canções de Jobim, onde os violões desafinados dizem mais que palavras certas, Biu se despede sem pressa nem rumo, deixando a alma da cidade um pouco mais vazia — mas cheia de lembrança. E isso, convenhamos, não é paia.


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