Salve o Primeiro de Maio!!!
Dia do trabalhador, esse trabalhador
que com sua luz enche o ambiente de trabalho de esperança, esse trabalhador que
diante de tantos desafios luta com dignidade pelo pão, pela vida, esse
trabalhador que mesmo diante do caos e da desigualdade mostra com maestria que
valor se tem na alma, que vence sem machucar ou derrubar pessoas, esse
trabalhador que busca esperançar e jamais desanimar...
Paz e luz
Poetiza Cecília Nóbrega
Breve considerações sobre o texto “Salve o Primeiro de Maio!!!”
O texto de Cecília Nóbrega irradia uma
ternura firme, um lirismo engajado que se aproxima de uma forma de oração
popular — dessas que não se aprendem nos livros, mas no gesto de quem reza
lavando louça ou costurando esperança.
“Salve o
Primeiro de Maio!!!”
É, ao mesmo tempo, grito e murmúrio;
celebração e contemplação. E nessa ambivalência poética, ouvimos ecos do
espírito do amado e eterno poeta: o canto do cotidiano elevado ao sagrado, o
humano em sua mais pura e bruta beleza.
À semelhança de Vinicius de Moraes —
que fez da simplicidade uma ferramenta de revelação — Cecília constrói um texto
onde a emoção não se mostra com artifícios, mas com a delicadeza de quem
conhece o peso real das coisas.
Há, na cadência repetitiva de “esse trabalhador
que...”, uma musicalidade quase litúrgica. Como em Vinicius, que
repetia versos como mantras (“É melhor ser alegre que ser triste...”), a
poetisa usa a repetição como invocação. A linguagem se torna corpo, respiração,
pulsação.
O trabalhador aqui retratado não é o
herói épico, mas o herói lírico — aquele cuja vitória está em seguir. Tal como
o "operário em construção" de Vinicius, que aos poucos toma
consciência de sua condição e de seu valor, Cecília nos apresenta um sujeito de alma
ativa, cuja dignidade não é dada, mas conquistada a cada dia, em silêncio, no
entretempo do mundo. Mas ao contrário da denúncia contida no tom mais
sombrio de Vinicius, Cecília opta por uma fé insistente no humano, quase
mística — talvez um "soneto de fidelidade" à vida que resiste.
A metáfora da luz é o fio condutor do
texto. “Com sua
luz enche o ambiente de trabalho de esperança” — não é uma luz
tecnológica, nem luz de holofotes.
É a luz interior, aquela mesma que o poeta
do “Samba da bênção” descreve como sendo essencial ao verdadeiro artista: “É melhor ser alegre que ser triste / Alegria é a melhor coisa que
existe”. Aqui, alegria se transfigura em esperança — não passiva,
mas ativa, como propunha Paulo Freire, sim, mas também como praticava Vinicius,
cuja boemia era menos fuga que forma de celebrar o humano, mesmo em suas
falhas.
Ao dizer que o trabalhador “vence sem machucar
ou derrubar pessoas”, Cecília não apenas celebra uma ética de
convivência — ela propõe uma estética do bem. É uma beleza ética, desarmada,
que remete àquela do "homem cordial", não no sentido sociológico, mas
no da delicadeza como resistência. Como Vinicius, que sabia ser “demasiado humano” e por isso mais poeta.
Na despedida, “Paz e luz” não soa como
fecho, mas como extensão de um abraço. Como a bênção que Vinicius oferecia em
seu "Poema Enjoadinho": “Filhos... melhor não
tê-los! Mas se não os temos, como sabê-lo?”. Cecília, aqui, parece
dizer: “Melhor
não trabalhar? Sim. Mas se não trabalhássemos, quem moveria a esperança?”.
O texto dela pulsa como esses versos: em contradição amorosa com o mundo, mas
sempre em direção ao outro.
Assim, Cecília Nóbrega escreve como
quem conhece as rugas da alma e, como Vinicius, transforma o comum em sublime.
Não por ornamento, mas por gratidão. Por fidelidade àquilo que não se pode
comprar — a dignidade de existir e
seguir.
Poeta Hiran de Melo
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