Devaneios de um admirador
da Natureza
Boa noite nobre Poeta. Neste
momento Campina Grande de coração aquecido se prepara para acolher a chuva que
se avizinha. É mais que um afago, chega a ser uma declaração de amor à Rainha
da Borborema.
O que antes era apenas limpar a poeira, hoje acompanha uma brisa que a
resfria já anunciando que o São João está chegando. Aí sim, podemos nos
aconchegar neste frio maravilhoso que paradoxalmente é um convite ao calor dos
amantes.
Josivan Campos Brasil, Sapientíssimo Mestre do Sublime Capítulo Adonhiramita Lúcio Newton
Martins, ao Vale de Campina Grande.
Leitura da Mensagem Poética
Ao reunir-me em espírito com
os Irmãos da Arte Real e os amantes da Palavra Viva, apresento esta reflexão
como um tributo à luz poética que irradia do texto "Devaneios de um
admirador da Natureza", de autoria do Irmão Josivan Campos Brasil. Que
minhas palavras possam honrar a harmonia dos elementos e a beleza da linguagem,
sob os auspícios da Sabedoria, da Força e da Beleza.
1. Do Título e do
Eu Lírico
“Devaneios de um admirador da
Natureza” — assim se intitula a peça poética, já revelando, com singela grandeza,
o estado elevado do espírito que contempla o mundo natural não com olhos de
posse, mas com reverência. O termo “devaneios” sugere uma mente que se permite
flutuar entre o visível e o invisível, entre o profano e o sagrado do existir.
O eu lírico se posiciona como
humilde observador da Criação, adotando postura quase iniciática diante dos
fenômenos da natureza — um caminheiro do eterno, em comunhão com o Grande
Arquiteto do Universo. Aqui, ressoa a vibração de um outro mestre da harmonia: Antônio
Carlos Jobim, cuja música fez da natureza um templo e do clima, uma oração.
2. "Boa noite
nobre Poeta"
Neste verso inaugural, ouvimos
uma saudação que mais parece uma invocação — como se o poeta abrisse as colunas
de um templo invisível para dialogar com os mestres do espírito. Ao chamar o
interlocutor de “nobre Poeta”, reconhece-se uma linhagem — não apenas de homens
de letras, mas de iniciados que captam a beleza velada nas pequenas coisas.
Tal saudação pode ser lida
como um aceno discreto à alma de Jobim, que falava com as árvores e ouvia o
canto das águas. Este é um cumprimento com a alma, não apenas com palavras.
3. "Campina
Grande de coração aquecido se prepara para acolher a chuva que se
avizinha."
Campina Grande é aqui elevada
à condição de entidade viva, pulsante, dotada de coração e sentimento. Esta
imagem nobre nos convida a perceber que a cidade, como o templo interior do
homem, se prepara para acolher o sagrado: a chuva, símbolo de purificação,
fertilidade e renascimento.
Na tradição poética de Jobim,
como em "Correnteza" ou "Águas de Março", o clima nunca é
mero pano de fundo, mas espelho da alma. Assim também faz Josivan: eleva o
simples à dignidade do eterno.
4. "É mais que
um afago, chega a ser uma declaração de amor à Rainha da Borborema."
O poeta transforma a chuva —
muitas vezes temida — em um gesto de ternura, num afeto devotado à “Rainha da
Borborema”, título que confere à cidade o esplendor da realeza. É a fusão entre
a paisagem e a mulher amada — uma sacralização do feminino, muito cara à tradição
poética e espiritual.
Jobim, em canções como "Luiza"
ou "Wave", fundiu o amor humano com a natureza. Josivan segue essa
mesma senda: a natureza é musa e amante, é terra e espírito.
5. "O que
antes era apenas limpar a poeira, hoje acompanha uma brisa que a resfria"
Aqui, somos conduzidos ao
mistério dos ciclos: da aridez ao frescor, da limpeza à renovação. A brisa,
como sopro vital, nos recorda os princípios elementares que regem a Criação:
Terra, Ar, Fogo e Água, unidos numa dança silenciosa.
Esta percepção do cotidiano
como expressão do eterno é também uma marca da maestria musical de Jobim, que
soube ver poesia onde outros veriam apenas rotina.
6. "Já anunciando que o São João
está chegando."
A aproximação do São João não
é mera referência ao calendário, mas evocação do tempo mítico, aquele que
transcende o relógio e habita a alma do povo. O clima torna-se arauto da festa
— da alegria coletiva, da comunhão.
Tal como Jobim valorizava os
rituais culturais do Brasil profundo, Josivan, nesta breve menção, coloca a
tradição popular como parte indissociável da natureza humana.
7. "Aí sim,
podemos nos aconchegar neste frio maravilhoso que paradoxalmente é um convite
ao calor dos amantes."
O poeta encerra sua obra com
um paradoxo digno de meditação: o frio que convida ao calor. Este é o ponto de
fusão entre os opostos — frio e calor, distância e abraço — onde o Amor, como
fogo invisível, se acende.
É neste ponto que o poema toca
a essência da Arte Real: unir contrários, edificar com palavras, aquecer com
beleza. É também onde a poética de Jobim ressoa mais forte — pois, como em "Chega
de Saudade", a ausência é ponte para a presença.
A Poética de Luz
O Irmão Josivan Campos Brasil,
com este pequeno-grande poema, ergue um altar de palavras à natureza, à cidade,
ao amor e à memória poética do Brasil. Sua obra está em harmonia com o espírito
de Tom Jobim, cuja música era feita de terra e céu, de tristeza bela e alegria
serena.
Embora o nome de Jobim não se
escreva diretamente no texto, sua alma musical o atravessa — como a luz
atravessa o vitral de um templo, colorindo o chão com símbolos que só os olhos
atentos percebem.
Que este testemunho, à maneira
de uma pranchada simbólica, inspire outros irmãos e leitores a olhar o mundo
com mais reverência, e a encontrar na chuva, na brisa e no silêncio... a
poesia.
Mestre Melquisedec
Oriente de Campina
Grande, 15 de maio de 2025, sob o céu estrelado do Agreste Paraibano.
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