Despedidas esquecidas

 

Por Hiran de Melo

 

Eu queria me ter em você,

Eu queria ser mais do que sou

Eu queria te ver

 

Quero sua presença

Mais que parcial

Quero me vê total...

Em qualquer lugar

Na rua calçada

No parque da criançada

Na estrada asfaltada

Sem nada, sem nada...

Quero só você na calçada

 

Ai como me dói estar

Morrendo tão longe

Do que eu queria ser

Do que lutei tanto para ter

Casa vazia sem barulho da vida

Silêncio que machuca o meu ser

Ai! Meu Pai, me perdoa!

Mas, não quero mais viver.

 

Reflexão – Uma leitura possível do poema:

 

Despedidas esquecidas

 

"Despedidas Esquecidas", de Hiran de Melo, é como um diário aberto, onde o autor compartilha seus sentimentos mais profundos. O poema nos leva a uma viagem pelos sentimentos do coração, mostrando a dor da solidão e a falta de conexão com um amor que se esvai.

 

Uma Busca por Completude Através do Outro

 

Eu queria me ter em você,

Eu queria ser mais do que sou

Eu queria te ver

 

A primeira estrofe de "Despedidas Esquecidas" nos apresenta um eu lírico que anseia por uma união profunda com o outro, um desejo que transcende a mera companhia. O verso "Eu queria me ter em você" expressa a vontade de fundir a própria identidade com a do outro, de transcender a individualidade e alcançar um estado de completude.

 

O anseio por "ser mais do que sou" revela uma insatisfação com a própria condição, uma busca por um estado de plenitude que só pode ser alcançado através do outro. É como se o eu lírico se sentisse incompleto, buscando no outro a parte que lhe falta.

 

O simples desejo de "te ver" já demonstra a intensidade da falta que o eu lírico sente da pessoa amada. A ausência do outro é sentida como uma dor profunda, um vazio que só pode ser preenchido pela sua presença. A repetição do pronome pessoal "eu" no início de cada verso reforça a intensidade do desejo e a centralidade do eu lírico na busca por essa união.

 

Um Anseio por Presença Absoluta

 

Quero sua presença

Mais que parcial

Quero me vê total...

Em qualquer lugar

Na rua calçada

No parque da criançada

Na estrada asfaltada

Sem nada, sem nada...

Quero só você na calçada

 

Na segunda estrofe, o eu lírico nos revela um anseio profundo pela presença total do outro, uma busca que transcende a mera companhia. O verso "Quero sua presença mais que parcial" expressa a insatisfação com a superficialidade, o desejo de uma conexão que preencha todos os espaços da vida.

 

O eu lírico não se contenta com encontros fugazes ou momentos compartilhados. Ele anseia por se ver "total" no outro, em todos os lugares e momentos. É como se ele buscasse um reflexo completo de si mesmo no olhar da amada, uma confirmação da própria existência através da presença do outro.

 

A escolha de cenários cotidianos como "rua calçada", "parque da criançada" e "estrada asfaltada" é uma estratégia poderosa. Ao invés de idealizar o amor em paisagens exóticas ou momentos extraordinários, o eu lírico o coloca no centro da vida comum. Isso reforça a ideia de que a presença do outro é desejada em todos os momentos, em todos os lugares, transformando o ordinário em extraordinário.

 

A repetição de "sem nada" é um eco da simplicidade e da pureza do desejo. O eu lírico não busca bens materiais ou conquistas grandiosas, mas a presença do outro como a única coisa necessária para a felicidade. É como se ele dissesse: "Contigo, eu tenho tudo".

 

O verso final, "quero só você na calçada", é um golpe de mestre. A "calçada" é um lugar de passagem, um espaço público e comum. Ao colocar a amada nesse cenário, o eu lírico a traz para o centro da sua vida, revelando a exclusividade e a intensidade do seu amor. É como se ele dissesse: "Em meio a multidão, em meio ao caos, eu só vejo você.

 

O Abismo da Solidão

 

Ai como me dói estar

Morrendo tão longe

Do que eu queria ser

Do que lutei tanto para ter

Casa vazia sem barulho da vida

Silêncio que machuca o meu ser

Ai! Meu Pai, me perdoa!

Mas, não quero mais viver.

 

A terceira estrofe de "Despedidas Esquecidas" é um mergulho no abismo da solidão, um espaço onde o eu lírico se confronta com a angústia existencial. O verso "Ai como me dói estar morrendo tão longe" expressa a angústia de se sentir distante do que se deseja, a sensação de que a vida está se esvaindo sem que os sonhos se realizem.

 

A "casa vazia" e o "silêncio que machuca" são metáforas poderosas que transcendem o simples cenário. Elas se tornam símbolos do vazio interior, da ausência de sentido e da desintegração do eu. O silêncio não é apenas a falta de som, mas a ausência de vida, de conexão, de esperança.

 

O pedido de perdão a Deus e a declaração de que "não quero mais viver" não são apenas expressões de desespero, mas um reconhecimento da própria fragilidade e da incapacidade de suportar a dor. É como se ele estivesse gritando por socorro, buscando uma saída para o sofrimento que o consome. Não há espaço para a solitude.

 

Por fim

 

"Despedidas Esquecidas" é um mergulho existencial na solidão e na busca por completude onde a ausência do outro ecoa como um grito silencioso, revelando a angústia da finitude e a necessidade de alteridade para a construção do ser.

 

Poeta Hiran de Melo 


Nota: Cada palavra, cada visão, no poema se apresentou sem pressa. Foi lapidada pelo tempo. Sim, o poema é um gripo visceral de despedida, em uma era em que o valor do mesmo foi esquecido. A despedida já foi a forma preferida de se fazer presente na alma do ser amado. A despedida assim sendo um portal da eternidade. 

Comentários

  1. Há dias, q todos nós somos um imenso salão vazio

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  2. Cada palavra, cada visão, se apresentou sem pressa. E foi lapidada pelo tempo.
    Sim é um grito visceral de despedida, em uma era em que o valor da mesma foi esquecida.
    A despedida já foi forma preferida de se fazer presente, na mente do ser amado.
    A despedida sendo o portal da eternidade, não deveria ter sido esquecida.
    Cantemos para que ela ressuscite em coisas simples e nos lugares ordinários.
    Assim estando jamais morrerá outra vez.

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