Um, Quando Dois

 

Por Gelda Moura

 

Da escuridão a luz matutina, te amei noite adentro sem reservas. Fomos um, quando dois.

 

As brumas que tentaram fechar em cortina os olhos que miravam meu corpo, abriram-se para festejar a explosão do momento.

 

Subimos mais alto que podemos e visitamos a casa de Deus.

 

La era tudo tão sublime; mais sublime ficou nossos corações.

 

Velejas em um céu nosso, já não podemos mais nos amparar em singular. Só resta aportar no caís da eternidade.

 

Arvores lá fora, dançam a dança do acasalamento, o frio as enternecem e vibram as folhas molhada pelo orvalho como um orgasmo. Você, suspira e diz baixinho: Sublime.

 

Mago dos meus devaneios, sou a feiticeira dos teus desejos.

 

Se escrevo e imploro tuas magias, é porquê preciso que me batizes.

 

Escuto o sussurro de um pássaro livre, mas é triste, na verdade ele só queria era estar preso. Preso por coxas que o enlaçaria como nuvens macias e brancas.

 

Passeias no vento que beija meu cabelo e corta minha pele.

 

Te espero para beber em mim; a morte do desapego.

 

Reflexão – Uma leitura possível do poema:

 

Um, Quando Dois

 

Em 'Um, Quando Dois', a poetisa Gelda Moura nos convida a uma jornada poética intensa, onde a paixão carnal se transmuta em uma experiência espiritual profunda. A autora, com maestria, tece um véu de palavras que nos envolve em um universo de união e transcendência.

 

Temas tratados no poema

 

A fusão dos amantes, descrita como a união de corpos e almas, transcende o plano material, alcançando uma dimensão espiritual profunda. A expressão 'Fomos um, quando dois' simboliza essa busca pela totalidade e pela transcendência, revelando um desejo de ir além dos limites do individual.

 

A natureza, em 'Um, Quando Dois', não é apenas um cenário, mas um personagem ativo na construção do universo poético. As brumas, as árvores e o orvalho, ao se entrelaçarem com os sentimentos dos amantes, criam um ambiente carregado de simbolismo e emoção, convidando o leitor a uma imersão profunda nesse universo.

 

A busca pela transcendência é um dos eixos centrais do poema. As referências à 'casa de Deus' e à 'eternidade' apontam para um desejo de ir além do plano material, buscando uma conexão com algo maior do que si mesmo. O amor, nesse contexto, se torna uma ponte para o divino, uma porta para um plano de existência mais elevado.

 

A originalidade da linguagem poética de Gelda Moura reside em sua capacidade de transformar o corpo e os sentidos em material poético. As descrições sensuais, ao mesmo tempo que evocam o desejo, transcendem o puramente carnal, convidando o leitor a uma reflexão sobre a natureza da paixão. As descrições dos corpos, dos toques e dos sentimentos evocam uma forte carga erótica, ao mesmo tempo em que transcendem o puramente físico.

 

A tensão entre a individualidade e a união é explorada de forma poética através da imagem do pássaro que 'queria era estar preso'. A liberdade, símbolo da individualidade, se contrapõe ao desejo de aprisionamento, que representa a busca por uma conexão profunda com outro ser. Essa dualidade revela a complexidade da experiência amorosa e a necessidade de equilibrar a autonomia com a intimidade.

 

Múltiplas leituras

 

Amor como caminho para o divino

 

A união dos amantes, descrita como um caminho para o divino, é uma das metáforas mais poderosas do poema. A linguagem poética, rica em simbolismo, eleva a experiência amorosa a um plano transcendente, sugerindo que o amor pode ser uma porta de acesso ao sagrado.

 

A superação do ego

 

A relação amorosa, ao promover a fusão dos amantes, leva à construção de uma identidade compartilhada. O 'nós' se torna o centro da experiência, superando a importância do 'eu' individual e celebrando a força da conexão humana.

 

A celebração da vida

 

Em sua essência, o poema é uma vibrante celebração da vida em todas as suas nuances. A paixão, a beleza da natureza e a busca espiritual entrelaçam-se, proporcionando ao leitor uma experiência estética intensa e enriquecedora.

 

Por fim

 

Com uma sensibilidade ímpar, Gelda Moura nos convida a uma jornada poética que transcende o plano físico, explorando a natureza do amor, da paixão e da espiritualidade. A metáfora da fusão dos amantes em 'um, quando dois' é o coração pulsante do poema, convidando o leitor a uma experiência sensorial e espiritual intensa. A natureza, como um eco dos sentimentos dos amantes, intensifica essa jornada, criando um universo poético rico em simbolismo e emoção.

 

Poeta Hiran de Melo 


Comentários

  1. Bom dia,Poeta!
    Para ti só existe uma palavra: inigualável!
    Obrigada por essa interpretação e conseguires ir tão profundo na natureza dessa poesia.

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