O jardim de cada um
Depoimento de um leitor
Por Hiran
de Melo
Recebo a poesia de
Majda Hamad Pereira como de uma jardineira que plantou palavras, e colheu, no
seu exuberante jardim, cores vibrantes e perfumes profundos.
Pretendo não apenas
descrever o jardim poético da autora, mas também o cultivar com minhas próprias
palavras, criando um diálogo rico e profundo com a obra que li e vivi.
Não me limitarei a
analisar cada poema isoladamente, mas sim a construir uma visão geral do jardim
poético da autora, considerando as diferentes fases de sua produção e as
interconexões entre elas.
O jardim poético da
autora é constituído de múltiplas flores, cores e perfumes. Tão múltiplo é que
abriga o jardim particular de cada leitor. Vamos caminhando no aconchego de
belos versos e nos encantando com cada canto das enormes veredas que se
apresentam a cada passo.
Talvez você seja
daqueles que desejam ler um livro de poesia inteiro de uma só vez. Se assim
for, a cada página lida, dirá que este é o seu jardim. E quando virar a página
contemplará outra poesia, em face da qual, possivelmente dirá também:
"este é o meu jardim!". E, no final, todo livro será o seu jardim.
Todavia, se você
for daqueles que leem uma poesia por dia, saboreando cada verso, certamente
encontrará em cada poema um jardim particular.
A poesia de Majda
Hamad Pereira é uma porta que se abre para o infinito, revelando a Imensidão
que existe em cada um de nós.
Enxergo neste
instigante livro, intitulado 'O Jardim de Cada Um & Outras Canções', as
cinco fases destacadas pela própria autora, as quais interagem e se
retroalimentam.
A primeira fase, ‘Perfumes do Jardim’, constitui uma pequena, mas significativa, amostra
da densidade poética da autora. Ela abre o jardim para que possamos ver as
cores do arco-íris presentes e sentir os diversos perfumes da sua cativante
atmosfera poética.
Na segunda fase, a
autora inicia uma ‘Busca Pela Semente’ da sua poesia.
Busca esta que se constitui em reduzir o número necessário de versos para registros
de sentimentos ou de afetos. Afeto, entendido como aquilo que nos afeta, nos
toca, exige de nós uma resposta, consciente ou não.
Confesso que fiquei
comovido ao ver que apenas oito palavras bastavam para colocar a dúvida, como
uma sombra, exigindo respostas que iluminassem o caminho.
Desde o início do
livro, a autora apresenta composições poéticas livres de métricas clássicas. A
característica marcante da sua poesia é a presença de um jogo de entonações
voltado para reproduzir o sentimento presente na sua alma. E nessa fase
minimalista isto se acentua.
Na terceira fase, ‘Húmus do Jardim’, a poetisa volta seu olhar para o outro, o de
fora, o estranho. E o faz mediante um olhar de compaixão, sofre com a dor do
outro. Este sofrimento, como húmus, alimenta seu jardim poético. Contemplo aqui
um sorriso generoso que estende a mão e acolhe o peregrino. Seja ele quem for,
desde que tenha uma alma aberta ao voo dos pássaros, ao brilho do sol, à poesia
da noite.
Na poesia do
Canavial, a incerteza do dia seguinte a leva a voltar à infância para cuidar
das raízes
‘Cuidando das Raízes’, traz as lembranças da terra, do mar e da chuva
que, com suas águas, alivia o sofrimento e alimenta as esperanças de dias
melhores.
Nesta fase, as
heranças culturais do além-mar, transmitidas pelos avós, fortalecem os laços
familiares, nutrindo as flores do seu jardim.
Entre tantas
raízes, há o lamento do velho marinheiro que não se cansa de navegar. 'Navegar
é preciso, lamentar não é preciso', talvez diria outro poeta. Porém, no
lamento, encontramos a indagação de onde andará a sua vida, mesmo sabendo que a
possui em toda a intensidade, sempre. A poetisa responde que a vida foi tomada
pelas entradas e saída, pelas horas vividas, pelas horas corridas, pelos dias
sem paz.
Observo nesta fase
do ‘Jardim de Cada Um’ uma inversão do tempo. Vejo o adulto com a escuta
voltada ao som da primavera, a visão aberta ao pôr do sol, admirando tudo à sua
volta, como uma criança que se maravilha com todas as coisas, proclamando ter encontrado
a felicidade a sua maneira, no tempo, no vento, nos pequenos momentos.
Bem cuidado, o
jardim sagrado se abre para o mundo exterior, reconhecendo que dele também vêm
a ‘Terra, o Fogo, a Água e o Ar’.
Tudo que eu poderia
dizer sobre esta fase, diz a poetiza de forma sintética nos versos seguintes:
“A cachaça é amiga
Das horas
A poesia é amiga
Do tempo
A cachaça chora
Por fora
A poesia chora
Por dentro
A cachaça e a
poesia
Tem seus amores
Tem a saudade
Suas dores
A cumplicidade
Tem as flores”.
Basta agradecer a
Majda Hamad Pereira por compartilhar conosco a beleza e a força de seu jardim
de Poesias & Canções.
Agradeço também a
Manoel Cassiano de Amorim Pereira, pai da autora, pela oportunidade de usufruir
da sabedoria contida em seus Adágios e Poesia. E à senhora, deixo meu coração,
grato pela generosidade de revelar a imensidão contida nas breves vidas
humanas.
Aprecio estes
versos como quem degusta um vinho português do Alentejo:
“O peso que em mim
carrega
É leveza de alma
sincera
Pois me dou ao
mundo
Coração aberto lá
no fundo
Horizonte infinito
Gratidão em ser
finito
Pela existência
eterna”.
Por fim, este depoimento é
um convite para você se aventurar pelo jardim encantado da poesia de Majda
Hamad Pereira.
Anexo: Sumário
do Livro
O jardim de cada um
Adágios e poesias do meu pai
Adágios |
Do corpo |
Mãe Natureza |
As Eras |
Estabilidade |
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