A Maçonaria e a Servidão Voluntária
Sob a inspiração do nosso amado mestre, Luiz Carlos
Silva, Grande Delegado Litúrgico da 1ª INSPETORIA LITÚRGICA DA PARAÍBA, e com o
olhar atento às ideias de Étienne de La Boétie, adentraremos o complexo tema da
servidão voluntária. O pensador francês do século XVI nos legou a provocadora
reflexão de que a opressão não se sustenta apenas pela força, mas também pela
aceitação daqueles que são oprimidos.
La Boétie afirma que as pessoas muitas vezes se
submetem voluntariamente à opressão por várias razões, incluindo: Medo, Ignorância,
Habituação, Benefícios materiais e Ilusão de segurança.
Ele afirma que essa servidão voluntária é mais
perigosa do que a opressão forçada, pois é mais difícil de reconhecer e
combater.
Características
da Servidão Voluntária na Contemporaneidade
Objetivando uma análise de um caso concreto de
servidão voluntária, considere a ascensão ao poder de relevantes líderes
nacionais, em especial nas Américas, mestres da retórica divisiva, que semeando
o medo e a incerteza, foram eleitos para o governo federal dos seus respectivos
países. Lembremos que a disseminação de desinformação e notícias falsas
obscurece a verdade, manipulando as pessoas para que aceitem até a tirania.
A promessa de ganhos materiais e ascensão social
iludiu muitos, que, cegos pela ambição, apoiaram políticas opressoras. A
concentração do poder e a repressão implacável àqueles que ousam discordar são
marcas registradas dos regimes autoritários, que, com maestria, induzem a
servidão voluntária. Este é um cenário
em que mecanismos inconscientes são explorados para manipular massas e
instaurar regimes opressivos.
Destrinchando
os conceitos
Mestres da retórica divisiva, esses líderes dominam
a arte da persuasão, explorando as angústias e desejos inconscientes das
massas. Ao polarizar a sociedade, a retórica divisiva cria um clima de tensão e
medo, facilitando a adesão a ideias extremas.
O medo, um poderoso motivador de comportamentos, é
semeado por esses líderes, que criam um clima de insegurança. Assim, as massas
tornam-se mais suscetíveis a aceitar soluções autoritárias como forma de
proteção.
A desinformação, um mecanismo de distorção da
realidade, é disseminada para criar uma narrativa alternativa que serve aos
interesses dos poderosos. Essa manipulação da informação impede o desenvolvimento
de um pensamento crítico e autônomo nas pessoas.
A ambição, um desejo universal, é explorada pela
promessa de ganhos materiais e ascensão social. Assim, as massas são levadas a
apoiar políticas que, muitas vezes, as prejudicam a longo prazo.
A concentração do poder em poucas mãos cria um clima
de insegurança e submissão. A repressão àqueles que discordam silencia vozes
dissidentes e mantém o controle.
Identificação
dos mecanismos de reação
As massas, impulsionadas por seus medos e
ansiedades, projetam esses sentimentos em grupos minoritários ou líderes
opositores. Essa projeção facilita a aceitação de discursos de ódio e a
justificativa de atos violentos.
A identificação com o líder autoritário,
internalizando seus valores e comportamentos, pode ser motivada por um desejo
inconsciente de poder ou pela necessidade de pertencer a um grupo.
O pensamento mágico, caracterizado pela crença em
soluções simples e rápidas para problemas complexos, é frequentemente
alimentado por discursos populistas. Isso leva as pessoas a adotar posições
extremas e a negar a complexidade da realidade.
A servidão voluntária, nesse contexto,
pode ser entendida como um mecanismo de defesa diante da angústia e da
incerteza. Ao se submeter a um líder autoritário, o indivíduo abdica de sua
autonomia em troca de uma falsa sensação de segurança.
É importante ressaltar que não oferecemos
soluções prontas para os problemas da sociedade. No entanto, apresentamos ferramentas para compreendermos os mecanismos psicológicos que sustentam a
opressão e a violência.
Consequências
da Servidão Voluntária
A
servidão voluntária é uma prisão auto imposta, que aprisiona a
liberdade individual e coletiva.
Essa submissão, um câncer que se alastra pela sociedade, perpetua e aprofunda as desigualdades, criando um abismo entre os
privilegiados e os marginalizados. A
polarização política, fruto dessa servidão, é um incêndio que consome o tecido social, dividindo a sociedade em facções irreconciliáveis.
Resistência
e Mudança
A conscientização, farol que ilumina as trevas da opressão, é o primeiro passo para a libertação. Ao armar a população com conhecimento, a educação e a informação libertam as
mentes, tornando-as imunes à manipulação. A ação coletiva, um coro de vozes unidas, desafia o poder
estabelecido, abrindo caminho para
um futuro mais justo e equânime.
Considerações
pertinentes
La Boétie inverte a lógica tradicional do poder,
argumentando que o governante não é uma força isolada, mas sim um produto da
vontade popular. A tirania, portanto, é um reflexo da própria sociedade que a
tolera. Para os irmãos maçons que juram combater a tirania, esta é uma questão
espinhosa.
O autor enfatiza a necessidade de cada indivíduo
despertar para a sua própria condição de sujeito e romper com os mecanismos de
submissão. A conscientização é o primeiro passo para a libertação. Assim, os
maçons devem aprofundar seu autoconhecimento, considerando que o inconsciente
influencia significativamente as escolhas de cada indivíduo.
La Boétie não idealiza a natureza humana,
reconhecendo a presença de vícios e fraquezas. No entanto, ele acredita no
potencial humano para a liberdade e a justiça. Sim, precisamos nos reconhecer
em nossa humanidade, com todas as nossas qualidades e imperfeições. O objetivo
de justiça e perfeição é um ideal, uma busca constante, e não um estado
alcançado de uma vez por todas. A Maçonaria, nesse sentido, representa um
caminho para essa busca.
Em resumo, a servidão voluntária é motivada por
diversos fatores. O medo da violência, da perda de bens ou da punição, aliado à
falta de conhecimento sobre as causas da opressão, impede que as pessoas se
rebelam. A opressão, quando se torna habitual, é naturalizada e aceita como
algo normal. A promessa de benefícios materiais, como proteção ou privilégios,
incentiva a colaboração com o opressor. Por fim, a falsa sensação de segurança
proporcionada pelo poder estabelecido inibe a oposição.
A
Relevância para os Dias Atuais
A Maçonaria, em seus primórdios, foi um movimento
revolucionário que defendia a liberdade e a igualdade. No entanto, ao longo de
sua história, a Instituição se deparou com o desafio de conciliar seus ideais
com as realidades do poder e da sociedade. A servidão voluntária, como descrita
por La Boétie, pode ser um espelho para a Maçonaria contemporânea, que em
alguns momentos parece ter se acomodado com o status quo, apoiando políticas
que contradizem seus próprios princípios. A questão que se coloca é: como a
Maçonaria pode resgatar seu compromisso original com a liberdade e a
justiça, evitando cair nas armadilhas da servidão voluntária e do
conformismo?
A maçonaria é uma experiência coletiva. É fundamental
que os maçons trabalhem juntos para criar um ambiente propício ao
desenvolvimento pessoal e à transformação social.
Exortação
A maçonaria nos convida a construir, não apenas
templos físicos, mas também templos interiores e uma sociedade mais justa. Que
cada um de nós se dedique a fortalecer os laços de fraternidade e a trabalhar
em conjunto para a evolução pessoal e coletiva.
A força da maçonaria reside na união dos seus
membros. Ao trabalharmos juntos, podemos superar desafios, inspirar outros e
construir um mundo mais humano. Que cada um de nós se comprometa a ser um agente
de transformação positiva.
A loja maçônica é um espaço privilegiado para o
desenvolvimento pessoal e a troca de experiências. Que cada um de nós contribua
para criar um ambiente de respeito, confiança e aprendizado mútuo, onde
possamos crescer juntos e fortalecer os laços de amizade.
Poeta, Hiran de Melo, obreiro CIM 404, da
ARLS Fraternidade, Força e União, filiada de número 8 ao GOPB. Campina Grande,
18 de novembro de 2024.
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