XVIII Seminário Adonhiramita – GOPB
Tema: O Rito Adonhiramita e o Processo Simbólico
de Transformação.
Texto de Referência I
A Jornada do Maçom Adonhiramita
Ao
adotarem o tratamento de "amado irmão", os maçons adonhiramitas
elegem o amor como o principal instrumento de transformação. Essa prática,
enraizada na tradição maçônica, simboliza a união e a solidariedade entre os
membros da Ordem.
A
Jornada do Maçom Adonhiramita é marcada por uma busca constante pela perfeição,
guiada pelos princípios da virtude, da sabedoria e da fraternidade. Através dos
rituais e dos ensinamentos, o maçom é convidado a transcender suas limitações e
a se tornar um ser humano mais completo e realizado.
No
entanto, essa jornada de transformação inicia-se em um ponto fundamental: o
autoconhecimento. Antes de amarmos os outros e buscarmos a perfeição, é preciso
aceitar e amar a nós mesmos, com todas as nossas virtudes e defeitos.
A
pergunta "Sou maçom?" encontra sua resposta na prática diária do amor
fraterno e na busca constante pela autotransformação. Ao nos reconhecermos como
parte de uma grande família espiritual, estamos, de fato, vivendo os princípios
da maçonaria.
Parto
da premissa de que, antes de querer amar os outros, antes de querer amar a
Deus, é preciso cuidar de si mesmo.
Amar a si mesmo. Mas não se trata de amar o que sonhamos ser. Não se trata de
amar o que pensamos ser. Trata-se de amar o que realmente somos. Isso significa
que devemos nos amar, mesmo sabendo que somos um composto de erros e acertos,
de virtudes e vícios, de luz e sombra.
As etapas do caminho do
autoconhecimento
O
caminho do autoconhecimento inicia-se com a descoberta de quem somos, para além
de nossas idealizações. A aceitação de si mesmo, com todas as suas nuances, é o
passo seguinte para que possamos explorar nossos potenciais e promover mudanças
significativas em nossas vidas.
Para
construirmos um mundo mais justo e igualitário, precisamos, antes de tudo,
aceitar a nós mesmos. A auto aceitação é o primeiro passo para criarmos
relações mais saudáveis e promovermos mudanças sociais significativas.
O
conhecimento e a aceitação de si mesmo nos levam à confiança, que por sua vez,
é o alicerce para o nosso crescimento pessoal. Essa confiança nos permite
enfrentar os desafios da vida com mais resiliência e determinação.
Ao
me aceitar como sou, sem a necessidade de me moldar a padrões externos, vivo de
forma mais autêntica. A busca constante por aprovação se torna dispensável
quando reconheço o valor da minha própria existência
A etapa do desapego nos liberta da necessidade de controlar a imagem que os
outros têm de nós. Ao conhecermos nossos limites e possibilidades,
compreendemos que cada pessoa nos percebe de forma única. Essa compreensão nos
permite aceitar e amar o outro em sua singularidade, assim como desejamos ser
aceitos.
Enraizamento e abertura
No
diálogo com o outro, dois conceitos são importantes: o enraizamento e a
abertura. Para esclarecer estes
conceitos daremos escuta ao Mestre Leonardo Boff.
Cada
um de nós se descobre enraizado dentro de um arranjo existencial com uma pesada
carga biopsicossocial. Este é o mundo concreto, com possibilidades limitadas
pela família, pela profissão, pelo nível cultural e pelo estado de consciência
próprio de cada um. Eis os traços do enraizamento:
ü O enraizamento nos vincula a uma
realidade específica, marcada por nossa história pessoal, contexto social,
cultural e biológico.
ü Nossas raízes, por mais profundas que
sejam, também delimitam nosso campo de ação. A família, a profissão, a educação
e outros fatores moldam nossas perspectivas e oportunidades.
ü O enraizamento contribui para a
construção de nossa identidade, pois nos conecta com nossas origens e nos dá um
senso de pertencimento.
Simultaneamente,
o ser humano está aberto ao mundo circundante: interage com ele, troca
informações, faz sínteses pessoais que plasmam sua história. Eis os traços da abertura:
ü A abertura nos permite ir além de
nossas raízes, conectando-nos com o mundo ao nosso redor.
ü Através da interação, trocamos
informações, experiências e conhecimentos, expandindo nossa compreensão do
mundo e de nós mesmos.
ü A abertura nos possibilita transcender
nossas limitações e nos transformar ao longo da vida.
A dialética entre enraizamento e
abertura
O
Mestre Leonardo Boff assegura que a experiência humana é um constante movimento
entre esses dois polos.
ü A vida plena exige um equilíbrio entre
o enraizamento e a abertura. Uma pessoa excessivamente enraizada pode ter
dificuldade em se adaptar a novas situações, enquanto uma pessoa excessivamente
aberta pode sentir-se desorientada e sem identidade.
ü O enraizamento e a abertura não são
estados fixos, mas sim processos dinâmicos que se transformam ao longo da vida.
Ao
compreender essa dinâmica, podemos desenvolver nosso potencial humano de forma
mais plena, integrando nossas raízes com nossa capacidade de nos conectar com o
mundo e com os outros.
O equilíbrio entre enraizamento e
abertura, e a importância da morte nesse processo
Os
mestres da escola esotéricas Adonhiramita recomendam que o aprendiz deva buscar
um equilíbrio entre o enraizamento e a abertura, pois se ele se fechar no
enraizamento prejudica a abertura. E se ele se abre em demasia, esquecendo as
raízes, se aliena e perde a identidade. Para que haja este equilíbrio é
necessário incorporar a morte na existência. Pois a existência é uma cadeia de
mortes e vidas novas.
O Equilíbrio Essencial
ü O enraizamento nos conecta com nossas
origens, enquanto a abertura nos permite expandir nossos horizontes. Ambos são
essenciais para uma vida plena.
ü Um excesso de enraizamento pode levar à
rigidez, ao apego excessivo ao passado e à dificuldade em se adaptar a novas
situações. Por outro lado, uma abertura excessiva pode gerar uma sensação de
desorientação, perda de identidade e dificuldade em estabelecer vínculos
profundos.
O
equilíbrio entre esses dois polos nos permite viver de forma mais integrada,
aproveitando o que há de melhor em cada um deles.
A Morte como Parte da Vida
ü A morte faz parte intrínseca da vida.
Ao reconhecer a finitude, valorizamos mais o presente e somos motivados a viver
de forma mais intensa e significativa.
ü A morte não é apenas o fim, mas também
um portal para a transformação. Ao deixarmos ir o que já não serve mais,
abrimos espaço para o novo.
A
aceitação da morte nos ajuda a cultivar um enraizamento mais profundo, pois nos
conecta com a nossa própria finitude e com a finitude de todas as coisas. Ao
mesmo tempo, nos abre para a possibilidade de novas experiências e
transformações.
Incorporando a Morte na Existência
ü Ao reconhecer nossa própria finitude,
valorizamos mais cada momento da vida.
ü Ao viver o presente de forma plena,
somos menos apegados ao passado e menos ansiosos em relação ao futuro.
ü Ao nos desapegarmos de coisas e
pessoas, libertamos energia para novas experiências e relacionamentos.
ü A consciência da morte nos ajuda a
cultivar a gratidão por cada momento da vida.
A
busca por um equilíbrio entre o enraizamento e a abertura, incorporando a morte
na existência, é um caminho para uma vida mais plena e significativa. Ao
reconhecer nossas raízes, abraçar o novo e aceitar a finitude, podemos
construir uma vida rica em significado e propósito.
Um exemplo ilustrativo
O
mestre Leonardo Boff nos brinda com um pedagógico exemplo desta cadeia: Amo a
família dos meus pais, minha família (enraizamento). Todavia, chega o momento
que devo me desapegar dela (abertura). Devo morrer para a minha família. Caso
contrário, não faço o meu caminho pelo mundo e não crio a minha própria
família. Assim, depois de morrer para a minha família original, ressuscito para
uma nova relação com ela.
O
exemplo de Leonardo Boff sobre o desapego da família original para construir
uma nova vida é uma bela ilustração do conceito de morte e renascimento como
parte integrante do processo de crescimento e desenvolvimento humano.
A Morte como Transformação
ü O desapego da família original não
significa necessariamente um rompimento, mas sim uma transformação na natureza
desse relacionamento. Ao criar nossa própria família, estabelecemos novas
conexões e assumimos novas responsabilidades.
ü A "morte" para a família
original representa um renascimento para uma nova fase da vida, com novas
possibilidades e desafios.
ü Esse ciclo de mortes e renascimentos se
repete ao longo da vida, à medida que passamos por diferentes etapas e
assumimos novas identidades.
A Importância do Desapego
O
desapego nos permite romper com padrões e crenças limitantes, abrindo espaço
para novas experiências e aprendizados. Assim:
ü Ao nos desapegarmos de nossas origens
profanas, desenvolvemos nossa autonomia e capacidade de tomar nossas próprias
decisões.
ü O desapego nos permite estabelecer
novas conexões e construir relacionamentos mais autênticos e maduros.
A Dimensão Espiritual
ü O desapego nos conecta com uma dimensão
mais profunda da existência, permitindo que transcendamos nossos egos e nos
conectemos com algo maior do que nós mesmos.
ü Ao nos desapegarmos do que é material e
transitório, podemos encontrar um significado mais profundo para a vida.
O nascimento do homem novo
Toda
iniciação prescreve a morte do homem velho para propiciar o nascimento do homem
nobre, do homem novo. É o desabrochar
do ser que habita em cada um de nós, nas profundezas da alma.
Como
realizar, na prática, a transformação
para o homem novo após a iniciação?
Inicialmente,
é preciso reconhecer que o chamado "homem velho" é caracterizado pela
ausência de um desejo genuíno. Ele é dominado por desejos alheios,
internalizados ao longo da vida por meio das influências de familiares,
professores e colegas. Em contrapartida, o "homem novo" possui um
desejo consciente e autêntico, formado a partir de experiências presentes e
vividas com intensidade.
No
"homem velho", as decisões são guiadas por memórias inconscientes que
limitam a visão de futuro. O medo, muitas vezes arraigado no passado, dita as
escolhas. Já no "homem novo", o amor é a força motriz,
impulsionando-o a buscar o que é bom e belo. É através do amor que ele descobre
seus verdadeiros desejos e direciona sua vida para um propósito mais significativo.
Para
dar início a essa transformação, é fundamental um processo gradual de desapego
do passado. Isso envolve a libertação de hábitos antigos, crenças limitantes e
memórias dolorosas que impedem o crescimento pessoal. Ao se desfazer do que já
foi, o indivíduo abre espaço para o novo e se conecta com sua essência mais
profunda.
Ao
esvaziarmos as lembranças, abrimos espaço para novas experiências e atitudes.
Agora, basta seguir as motivações que brotam do coração, do centro do ser.
Motivações que valorizam o ser mais do que o ter.
Se,
por exemplo, eu guardo livros que não mais os leio, melhor doá-los. E uma
biblioteca pública é um destino melhor do que um amigo particular. Um destino
particular pode gerar a expectativa de reciprocidade, aflorando o sentimento de
recompensa no receptor. Pior ainda, o doador pode nutrir a expectativa de
gratidão. Em ambos os casos, o destino particular pode criar novas e sutis
amarras, fortalecendo os padrões do 'homem velho'.
São
João nos oferece um critério preciso: quem sente medo ainda não alcançou a
plenitude do amor, distinguindo assim o 'homem novo' do 'homem velho', o
profano do Maçom Adonhiramita.
Exortação
Amados
irmãos, a jornada maçônica é um convite à transformação constante. Ao nos
despedirmos do "homem velho", com seus vícios e apegos, abrimos as
portas para um novo mundo de possibilidades. Que a chama da razão e da virtude
ilumine nosso caminho, guiando-nos rumo à perfeição espiritual.
Poeta
Hiran de Melo – Sublime
Príncipe do Real Segredo, Grau 32 do REAA, e Cavaleiro Noaquita, Grau 13 do Rito Adonhiramita. Ao vale do
Mirante, 16 de outubro de 2024.
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