A
Essência da Tolerância
A tolerância é uma virtude fundamental e rara.
Apesar de possuir limites, estes muitas vezes são impostos de forma
demasiadamente rígida e nos lugares errados. Tome como exemplo a decisão de um
juiz que rejeitou um pedido da polícia para que as prostitutas da Casa de Campo
se vestissem mais. Elas usavam ligas, corpetes e minissaias, o que o chefe de
polícia considerava indecente, mas o juiz decidiu que, sendo parte do uniforme
da profissão, elas tinham o direito de usar essas roupas.
Essa decisão exemplifica a verdadeira tolerância,
ecoando os ideais de John Stuart Mill, que afirmou: “A humanidade tem muito a ganhar permitindo que cada um viva como bem
entender, sem forçar todos a viverem da mesma forma”. Tolerância, então,
significa permitir a diversidade de estilos de vida, pois dessa diversidade
pode-se aprender muito sobre a condição humana. Ninguém deve impor suas
próprias práticas e convicções aos outros, desde que as ações desses outros não
prejudiquem terceiros. Estes são os princípios do liberalismo, uma palavra que
assusta aqueles que acreditam que sem controle rígido sobre pensamentos e
comportamentos, o caos imperará.
No entanto, a tolerância é tanto o centro quanto o
paradoxo do liberalismo. Isso porque o liberalismo promove a tolerância de
perspectivas opostas e dá espaço para que todas as ideias sejam expressas,
deixando a "democracia das ideias" decidir qual prevalecerá. O
resultado é frequentemente a supressão da própria tolerância, pois aqueles com
visões rígidas e intransigentes frequentemente buscam silenciar os liberais,
cuja natureza inclusiva ameaça seu desejo de hegemonia.
À questão "Deve o tolerante tolerar o intolerante?", a resposta
retumbante é "Não". A tolerância precisa se proteger, permitindo que
todos exponham seus pontos de vista, mas sem forçar os outros a aceitá-los. A
única coerção aceitável é a da argumentação; a única obrigação, o raciocínio
honesto. Helen Keller disse que "o resultado mais elevado da educação é a
tolerância", e estava certa: em geral, o raciocínio imparcial tende a
favorecer o bem e a verdade.
A intolerância, por sua vez, é sintomática de
insegurança e medo. Fanáticos, alegando querer salvar nossas almas, na verdade
se sentem ameaçados. Os talibãs, por exemplo, impõem severas restrições às
mulheres porque temem sua liberdade. O medo gera intolerância, que por sua vez
gera mais medo, criando um ciclo vicioso.
Tolerância e intolerância não são apenas formas de
aceitação e rejeição. É possível tolerar uma crença ou prática sem
necessariamente aceitá-la. A tolerância reconhece que o mundo é vasto o
suficiente para a coexistência de alternativas. Sentir-se ofendido pelo que os
outros fazem muitas vezes significa que estamos demasiado envolvidos. Aprender
a tolerar a nós mesmos é um objetivo crucial para uma vida civilizada.
Mestre Luiz Carlos Silva – Grande Delegado Litúrgico da 1ª
INSPETORIA LITÚRGICA DA PARAÍBA, oriente de Campina Grande, 30 de outubro de
2024.
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