Cosmovisão em construção

Cosmovisão em construção

 

Até onde me lembro, quando menino o meu mundo era a minha casa, meus pais, irmãos e primas. Além da casa, tinha a rua e lá a minha visão do mundo se ampliava. A porta da casa não era um limite entre o sagrado e o profano, porque a rua era uma continuidade da casa.

 

Nas calçadas das casas eu e os amigos brincávamos, corríamos e, quando, sentávamos e sorriamos satisfeitos. Não havia relógio para marcar o tempo. O tempo não existia, não nos amedrontava. Nem sabíamos que depois, muito depois, Ele se apresentaria como Cronos que nos criava como filhos e que com o ciclo solar iria nos devorar.  

 

O tempo da liberdade da rua se indo, veio o tempo da escola. A disciplina não dava espaço a brincadeira. Não sabia para que estudar, decorar tantos nomes, tantas classificações, tantos conhecimentos, a não ser para não ser humilhado com notas baixas nas provas. Estudar para ser gente na vida, era a promessa.

 

Aos doze anos, com o falecimento do meu pai, entendi o que era ser gente, e aí o olhar para a escola mudou. Saber interpretar os símbolos e operar os números faziam a diferença entre o menino e o adulto. Por aqui deixo as lembranças felizes do menino que brincava na rua.

 

Contemplar as estrelas à noite não cegava ninguém. Mas enganava o olhar, não eram bolinhas que estavam no firmamento só para enfeitar as noites de verão. Eram bolas de fogo e muitas vezes maiores que o sol, esse sim, não poderia ser contemplado.

 

O que fazia as estrelas se apresentarem como pequenas bolinhas era a distância que nos separavam. Mas esse fato não poderia e não pode ser verificado sem ajuda de instrumentos que ampliam o alcance do olhar. Além disso, hoje, os sinais captados pelos telescópios são processados em supercomputadores para poder serem apreciados como imagem do cosmo.

 

Definitivamente não habitamos o centro do Universo e nem tudo gira entorno de nós. Ou melhor, quase nada gira por nós. Até o planeta Terra gira em torno de uma insignificante estrela de quinta grandeza.

 

É fato que possuímos o dom de arquitetar, de criar, de transformar. Esse dom faz com que acreditemos que somos a imagem do Grande Arquiteto do Universo. Esquecendo da nossa finitude, da nossa relatividade, pretendemos ser imagem do Infinito, do Absoluto.

 

É fato, também, que sozinho não produzimos quase nada do que consumimos. Tudo que consumimos é fruto da humanidade como um todo. E a humanidade é uma invenção humana. Não é divina. Produzimos condições melhores de vida, ao mesmo tempo que produzimos armas que tudo destrói.

 

Construímos uma cidade na terra santa, que de fato é a cidade da guerra; dos guerreiros adoradores do Senhor dos Exércitos. O Senhor que aceita oferendas de sangue.


Ao adentrar os anos setenta, a chamada melhor idade, ou idade do condor, minha visão do mundo ainda se encontra em construção.

 

Ela converge para a compreensão de que o Amor, o Senhor da Vida, também pode habitar no santuário, que de fato importa, existente no coração do homem. Que não é simples trocar um coração de pedra por um coração fonte de água pura, mas é possível. Que é muito fácil juntar as pessoas para erguer uma bandeira de ódio ao outro, ao diferente. Todavia, só em nome do Amor se pode construir a Cidade da Paz, a Jerusalém Celestial anunciada pelos poetas.    

 

Poeta Hiran de Melo, instalado Mestre Maçom, Oriente de Campina Grande PB, ao Segundo dia de maio de 2024.


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