Graça
e Paz – Capítulo 9
Religião
Universal ou a Negação da Religião?
A defesa de uma religião universal dentro da
Maçonaria me causou surpresa. Durante o Terceiro Conclave Maçônico em Camalaú,
descobri que um determinado rito maçônico propõe, como um de seus princípios
fundamentais, a criação de uma religião universal. Embora eu já conhecesse
parcialmente esse rito, essa ideia de uma fé única para todos os maçons me
parece excessiva e até mesmo contraditória.
Concordo que a Maçonaria busca a união entre pessoas
de diferentes crenças, e a retirada de símbolos religiosos específicos dos
templos pode ser uma forma de promover essa inclusão. No entanto, a proposta de
uma religião universal universaliza a experiência religiosa de forma simplista,
ignorando a rica diversidade de crenças e práticas espirituais ao redor do
mundo.
A Maçonaria, em sua essência, valoriza a liberdade
de pensamento e a busca individual pela verdade. A imposição de uma única
religião, por mais abrangente que ela se pretenda, contraria esse princípio
fundamental. A diversidade de crenças é uma riqueza que fortalece a experiência
maçônica, permitindo que cada um encontre seu próprio caminho espiritual dentro
da fraternidade.
Por que existem várias religiões, se
Deus é único? Essa
é a questão que surge quando se defende a ideia de uma religião universal. A
busca por uma fé única para todos parece atraente à primeira vista. No entanto,
essa perspectiva ignora a complexidade da experiência humana e a diversidade de
culturas. Além disso, seria mais simples
ter um único ritual para todos?
Para
responder a essas perguntas, precisamos considerar a natureza da divindade e a
diversidade da humanidade. Deus é único, mas se manifesta de formas distintas
para cada indivíduo. Os filhos de Deus possuem níveis de consciência, culturas
e experiências de vida distintos. Assim, o Pai se revela de maneira única a
cada um, de acordo com seu estágio de
evolução espiritual.
Observemos,
por exemplo, os povos indígenas brasileiros. Suas crenças e práticas religiosas,
profundamente ligadas à natureza e aos ancestrais, contrastam com as religiões
abraâmicas. Essa diversidade demonstra que a espiritualidade humana se expressa
de inúmeras formas, moldada por contextos culturais e históricos específicos.
A
religião, nesse sentido, é uma forma de os seres humanos se conectarem com o
sagrado e buscarem sentido para a vida. Ela é um caminho para religar o
indivíduo ao divino, e esse caminho pode variar amplamente dependendo das
circunstâncias e do contexto cultural. Não existe uma única fórmula para a
experiência religiosa, pois ela é tão diversa quanto a própria humanidade. As
tentativas de impor uma religião única a um povo, como a história nos mostra,
geralmente levam a conflitos e à repressão da diversidade espiritual.
A ideia de
uma religião universal pressupõe que todos os seres humanos tenham o mesmo
nível de compreensão espiritual. No entanto, essa premissa é falha, pois a
experiência religiosa é altamente subjetiva e varia de pessoa para pessoa,
mesmo dentro de uma mesma comunidade de fé.
Jesus, por
exemplo, utilizava parábolas para transmitir seus ensinamentos. Essas
histórias, repletas de simbolismo, revelavam verdades profundas apenas para
aqueles que estavam preparados para compreendê-las. Assim como uma semente só
germina em solo fértil, a compreensão espiritual exige um terreno interior
preparado.
A diversidade
de interpretações é evidente até mesmo dentro do cristianismo, que se ramificou
em inúmeras denominações ao longo dos séculos. Essa fragmentação demonstra que
a fé é um processo individual e que a busca por uma única verdade universal
pode ser ilusória. A religião é um caminho pessoal, e cada indivíduo encontra
sua própria maneira de se conectar com o sagrado.
A figura de Maria Madalena tem sido objeto de
diversas interpretações ao longo da história do cristianismo. Embora seja
comumente associada à imagem de uma prostituta arrependida, essa visão é fruto
de interpretações posteriores aos textos bíblicos originais. As fontes bíblicas
não oferecem evidências concretas para essa afirmação.
Em algumas
tradições, Maria Madalena foi acusada de adultério espiritual por seguir uma fé
diferente daquela estabelecida. Essa acusação, frequentemente utilizada contra
mulheres que desafiavam as normas religiosas, buscava marginalizar sua figura e
desacreditar seu testemunho.
No entanto,
para muitos, Maria Madalena representa um símbolo de fé e devoção. Ela foi uma
das primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus e, segundo algumas
interpretações, foi a primeira a anunciar a boa nova aos apóstolos. Essa visão
de Maria Madalena como apóstola e evangelizadora a coloca em um lugar de
destaque na história do cristianismo, desafiando as hierarquias de poder e
gênero estabelecidas na época.
A afirmação
de que Maria Madalena é a verdadeira fundadora do cristianismo é uma tese que
tem ganhado força em alguns círculos religiosos e acadêmicos. Ao anunciar a
ressurreição de Jesus e ao enfatizar o amor como fundamento da fé, Maria
Madalena contribuiu de forma significativa para a formação do cristianismo
primitivo. Sua figura representa a importância das mulheres na história da
igreja e a necessidade de uma reinterpretação do papel feminino na teologia.
Diante dessa diversidade de interpretações e
experiências religiosas, fica evidente a impossibilidade de uma religião
universal. A busca por uma fé única para todos ignora a complexidade da
experiência humana e a riqueza das diferentes expressões espirituais.
Quando
falamos em religião universal, estamos, na verdade, negando a necessidade da
fé. No entanto, a fé é um aspecto fundamental da experiência humana, e a busca
por um sentido para a vida é inerente à nossa natureza.
A compreensão
da divindade também é marcada por essa diversidade. Deus é imanente, presente
em todas as coisas e em cada ser humano. Ao mesmo tempo, Ele transcende a nossa
compreensão, sendo um mistério insondável. É como um oceano infinito, onde cada
gota reflete a luz de maneira única. Deus fala a todos, mas cada um ouve em sua
própria língua, com seus próprios ouvidos e seu próprio coração.
Exortação
Irmãos e
irmãs, assim como um mesmo instrumento musical, nas mãos de mestres diferentes,
produz melodias únicas e belas, a divindade se revela de maneira singular a
cada um de nós. Nossa jornada espiritual é tão individual quanto nossas
impressões digitais. Abramos nossos corações para essa infinita variedade de
expressões espirituais. Respeitemos as crenças alheias, assim como desejamos
que nossas crenças sejam respeitadas.
Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro
Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, ao Vale do Mirante, 19 de Kislev
do ano de 6013 da VL.
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