A Morte de Eva – IV

Poderíamos ter feito outra escolha?

 

A expulsão do paraíso não foi tão ruim como imaginei no princípio. Descobri e venho descobrindo muitas coisas e nomeando-as. Aprendi novos verbos, dentre os quais está o verbo trabalhar.

 

São tantas as descobertas que a minha memória do Paraíso vai se apagando. Meu paraíso hoje é estar nos braços de Eva. É certo que com o passar do tempo os momentos de mãos dadas ficaram raros.

 

Os nossos meninos estão crescidos e apresentam interesses diversos e muitas vezes diferentes: um gosta de cuidar de animais, o outro de plantas. A brincadeira conjunta, antes tão comum, agora é rara. Cada um imerso em seu próprio mundo, falam sempre no amanhã. No futuro terei isso, no futuro terei aqui, etc.

 

Parece que eles não dispõem de tempo para o ser, para a contemplação, para simplesmente ser. Resolvemos combater este equívoco. Começamos revelando que até o Pai descansou no sétimo dia, na oportunidade em que criou o cosmo. Para alcançar o nosso objetivo, consagramos um dia de cada sete para pedir perdão ao Pai e lhe agradecer pelas nossas conquistas.

 

Alimentamos a esperança de construir um paraíso aqui na terra com a benção do Pai. Não temos certeza da eficácia do método, mas estamos aperfeiçoando-o. Para muitos, estamos criando regras, definindo o que é permitido e o que não é. Gostamos de exercer o poder, nos sentimos como deuses.

 

Entretanto, nem tudo é alegria na nossa liberdade de fazer o que queremos e em não fazer o que podemos. Há sempre uma melancolia associada ao hábito de Eva de reconsiderar a nossa decisão original. – E se não tivéssemos aceitado a Maçã?

 

Não conhecíamos o envelhecimento e agora sim. Algo nos diz que estamos partindo, e antes não. De vez em quando ficamos doentes e somos forçados a buscar a cura experimentando ervas. Retornamos ao que chamamos estado de saúde, mas não ao original.

 

As famílias de Caim e Abel se odeiam. Uma não aceita a escolha que foi atribuída a Deus, a outra a consequência da escolha. Algo nos informa que a morte nos sonda. Eva não para de pensar como seria diferente se não tivéssemos comido do fruto proibido. Reclama de si e da minha fraqueza e indaga: - Por que você não rejeitou? - Ora, por que ela não cessa de buscar o sofrimento, olhando para trás?

 

Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, aos 14 dias do mês de julho do ano 2011 da revelação do nome de Deus.

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