A Morte de Eva – III

Como retornar à casa do Pai?

 

Com a expulsão do paraíso, os filhos de Eva espalharam-se pelos quatro cantos da Terra, transformando cada lugar em um novo Éden a ser conquistado. Para defender seus domínios recém-criados, forjaram exércitos e ergueram muralhas. Em busca de união e poder, inventaram os deuses, prometendo aos homens um caminho para o além. Mas a história, cruelmente irônica, revelou a farsa por trás da fé.

 

Diante desse quadro, Eva, a primeira testemunha da criação, não pode conter o espanto. A Serpente, saboreando o fruto da árvore do conhecimento, apenas sorri.

 

Com um coração dilacerado, Eva testemunhava a incompreensão de seus descendentes, que, em sua busca por Deus, haviam fragmentado a unidade original da criação.

 

Sob a justificativa de construir um espaço sagrado dedicado à paz, os filhos de Eva ergueram templos imponentes, como naves que os levariam à casa do Pai. No entanto, a história demonstra que, muitas vezes, esses espaços se tornaram palcos de disputas e poder.

 

Mais uma vez Eva é surpreendida. Pois para ela, a conexão se dá diretamente caminhando, respirando o vento, sem isolamentos da natureza. A Serpente balança o rabo reprovando o que pensava Eva.

 

Ao longo dos tempos, os descendentes de Eva moldaram seus deuses à própria imagem. Para alguns, a divindade era uma mãe fértil, a própria natureza; para outros, um arquiteto poderoso, senhor dos céus e da terra. Aqueles que celebravam a força e a conquista a viam como um guerreiro invencível, um Senhor dos Exércitos. Diante dessa profusão de deuses, Eva, testemunha da criação, lamentava a profunda incompreensão de seus filhos.

 

Em Jerusalém, cidade sagrada para três grandes religiões, Eva testemunhou a complexidade da fé humana. Nos templos, a devoção era evidente, mas a paz prometida parecia distante. A ausência de paz interior nos rostos daqueles que buscavam a Deus a fez concluir que a construção de um paraíso artificial não era a solução. A verdadeira paz reside no coração amoroso e justo.

 

Os adeptos de diferentes religiões utilizam termos diversos para descrever o estado de união com o divino. Para alguns, é a salvação, para outros, o despertar espiritual. Em geral, busca-se uma transcendência da condição humana atual, uma libertação das limitações e um encontro com uma realidade superior. Divagações, dispersão, do jeito que a Serpente gosta.

 

As religiões se distinguem por seus rituais, crenças e práticas, mas todas buscam o divino. Embora muitas afirmem possuir a única verdade, a história demonstra uma rica diversidade religiosa. Enquanto alguns defendem a exclusividade de sua fé, outros reconhecem a possibilidade de múltiplas manifestações do divino. Diante dessa diversidade, Eva lamenta a incompreensão humana e clama por seu Pai. A Serpente, irônica, parece aprovar sua perplexidade.

 

A profusão de deuses é um reflexo da infinita variedade da alma humana. O Pai, em sua sabedoria, se manifesta de formas infinitas, adaptando-se à compreensão de cada um. Essa diversidade, embora possa confundir, é um testemunho da grandeza divina. Com essa nova compreensão, Eva encontra um raio de esperança e a Serpente, com um sorriso enigmático, parece concordar com a complexidade da criação.

 

Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, aos 13 dias do mês de julho do ano 2011 da revelação do nome de Deus.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog