A Morte de Eva – II
Qual
seria a nossa pena?
Cometemos o único pecado possível. Afastamo-nos do
Pai e nos sentimos libertos. Saímos do Paraíso para conquistar o mundo.
Inicialmente, experimentávamos muita timidez, mas logo fomos dominados pela
arrogância. Somos os Senhores da Terra. Como tais, construiremos o nosso
próprio paraíso.
Não demorou muito para que fôssemos demais para vivermos juntos como
irmãos, filhos de Eva. Dividimo-nos em tribos, depois em nações inimigas.
Sofremos adaptações na cor e no
físico, e nos identificamos em vários grupos
étnicos e civilizações rivais, em guerra.
Assim como as guerras são travadas no exterior, cada
um trava uma batalha particular em seu interior. Cada um proclama a sua própria
divindade, apesar de reconhecer a existência de um único Deus. Impérios são
erguidos em nome dessas divindades, velhos reinos ruem e novos surgem, todos
alimentando a ilusão de eternidade. Ironicamente, todos invocam a Paz enquanto
constroem seus impérios com fogo e sangue.
A serpente sorridente, sua promessa cumprida: nos
tornamos deuses. Eva, a primeira mulher, chora, testemunha impotente da
destruição que seus filhos causaram.
Cometemos o pecado original e nossa pena consiste
unicamente em nunca esquecer as imagens do Paraíso. Tentamos construir um novo
Éden na Terra, guiados por memórias como a da mulher amada, pura e fiel, e a
promessa de uma vida eterna na casa do Pai. Assim, perpetuamos a busca por um
estado de perfeição perdido.
Os filhos de Eva são seres movidos por imagens. Não é a razão, o conhecimento ou o
discernimento que os move, mas sim as imagens. É o desejo de tornar real a imagem do paraíso perdido que os impulsiona
a construir seus projetos, a perseguir seus sonhos. Guiados por essas visões,
eles enfrentam desafios e superam obstáculos, buscando incessantemente a
realização de seus ideais.
Ao meu lado, o ancião profetiza: 'A principal
verdade continua sendo a de que tudo depende muito menos do que se tem ou se
representa do que daquilo que se é'. Ou de forma direta: os filhos de Eva
buscam o ter e esquecem o ser. Buscam ter o poder do Pai e esquecem que são
filhos de Deus. 
A cobra sorri, a promessa foi cumprida, acham-se
Deuses. Eva chora, pois compreende as consequências dessa busca desenfreada
pelo poder.
Ao meu lado, o ancião profetiza: – “Como guia das
nossas aspirações não devemos tomar imagem da fantasia, mas conceitos”. Não
permitir que a meta de alcançar a felicidade se concentre em imagens do
paraíso. Estas imagens mais cedo ou mais tarde se revelarão como fantasmas que
se desfazem no tempo. Em palavras brandas: amar a mulher concreta que está ao seu lado e esquecer a imagem da mulher amada. Ou seja, permitir a morte de Eva. Ao fazer isso,
libertamo-nos da busca por um ideal irreal e encontramos a felicidade no real.
Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro
Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, aos 12 dias do mês de julho do
ano 2011 da revelação do nome de Deus.
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