O Sagrado Feminino
Amados
irmãos e amadas irmãs, bom dia.
                                                
Trabalharemos
hoje com a Participação da Mulher em Lojas da Espanha e da França, sob as
Potências Regulares desses países.
Uma
das maiores diferenças entre as Potências Maçônicas Regulares da Inglaterra –
as mais conservadoras – e as da França – mais liberais – foi o tema da presença
da Mulher na nossa Augusta Ordem. Admitidas que foram elas nas Lojas de países de
origem latina, passaram-se quase 2 séculos antes de que ocorresse o mesmo nas
Lojas das Ilhas Britânicas.
Lembremos
que nas Constituições de Anderson, a começos do século XVIII, as mulheres
ficaram excluídas da Ordem, sendo que uma das condições para a iniciação era
que o candidato fosse “Homem livre e de bons costumes”.
No
início, nas antigas Corporações de Pedreiro, só eram ingressados os pedreiros
ou serventes, todos sendo homens de acordo com seu ofício. Mas logo da
publicação das obras de Anderson, surgiu à necessidade de ingressar também
“Homens livres”, os quais eram selecionados entre pessoas de boa situação
econômica. Essa independência econômica era impossível para as mulheres,
confinadas ao lar, fosse citadino ou camponês.
O
ingresso massivo da Mulher ao mercado do trabalho, é um fenômeno do século XX.
Mas
todas essas dificuldades não impediram que elas sempre se sentissem atraídas
pela Maçonaria. Na França de Luis XIV e Moliére (iniciado diretamente como
Mestre Maçom no ano de 1779 em uma Loja Mista, “As Sete Irmãs”), as Damas
de certo nível reuniam-se nas cortes e salões, a sós ou com homens, para
debater sobre diversos aspectos da vida cultural. Dessas sessões surgiram aos
poucos as primeiras Sociedades Maçônicas de Adoção, outras que já
seriam consideradas como Lojas Mistas e logo, Sociedades
Maçônicas propriamente femininas.   Essa sequência tão
lógica, não foi, porém, fácil de dar, nem muito menos em todos aqueles países
onde a Maçonaria era de presença marcante. Foi então quando aos poucos, foi-se
impondo o razoamento de que, se bem nas origens da Ordem era normal que fossem
admitidos somente pedreiros por serem eles homens, enquanto as mulheres
tinham seus próprios rituais iniciáticos, adaptados a suas profissões
ou tarefas.
Esses
ofícios especializados eram essencialmente os relacionados com o tecido. E
muitas vezes, nesses ofícios trabalhavam juntos Homens e Mulheres.  Tal
foi o caso da tecelagem dos tapetes da Idade Média no Ocidente. E com frequência,
esses tapetes passavam a integrar a ornamentação das catedrais construídas por
Irmandades de Construtores e Maçons. Ainda hoje, e possível aprecia-los em
algumas das mais belas catedrais europeias.
Sendo
a Maçonaria a Sociedade onde os homens procuravam o aperfeiçoamento pessoal e da
sociedade em seu conjunto, as Mulheres começaram a reclamar pelo direito de
aceder a esses conhecimentos, tal quais os Homens.
O Rito
de Adoção ou Maçonaria de Damas, segundo o registro dos Arquivos da
GRANDE LOJA DA FRANÇA, nasceu em 1744. Embora seu crescimento não fosse tão
rápido quanto as Lojas masculinas, a fins do século XIX já contavam
com mais de 150 Lojas.
Esse
crescimento ainda foi compartilhado com a chamada “Maçonaria Egípcia” fundada
por Cagliostro.
As
Lojas Femininas foram se aperfeiçoando, criando seus próprios regulamentos. A
suas sessões só podiam assistir Mestres Maçons convidados. E cada uma delas,
estava dirigida por uma Loja masculina. As sessões sempre eram dirigidas por um
Mestre Maçom que podia ter a seu lado uma Mestre Presidenta.
Constavam
de 4 Graus:
Primeiro:
Aprendiza
Segundo:
Companheira
Terceiro:
Mestra
Quarto:
Mestra Perfeita
Os
primeiros dados registrados sobre a Maçonaria Feminina na Espanha, estão no
“Anuário do Grande Oriente Espanhol”, dos anos 1894 e 95, onde já se fala de 7
Lojas de Adoção. Dentre delas, destacavam-se “As Filhas da União No. 5”,
de Valência; “As Filhas da Regeneração “, em Cadiz; “As Filhas dos Pobres”, em
Madri, etc.
Nesse
tempo, aparece na França a presença de Marie Deraismes, lutadora pelos direitos
da Infância e das Mulheres. Junto a seu Esposo, Médico e Senador, inicia uma
campanha em prol dos direitos civis das Mulheres e, finalmente, em 1882, é
iniciada como Maçona na Loja “Les libres Penseurs du Pecq”. E em 1893, inicia a
“Grande Loja Simbólica Escocesa de França, Lê Droit Humain”.
Essa
Loja foi crescendo, multiplicando oficinas e organizando os Graus Superiores.
Em 1924, surgiu na Espanha a 1ª. das Lojas “Lê Droit Humain”, mas suas
atividades ficaram suspensas com a presença do ditador Franco. Recém em 1981,
reiniciam-se as atividades maçônicas na Espanha.
Hoje
em dia, a Potência criada por M. Deraismes, tem 400 Lojas com 12.000 membros,
espalhados por vários países latinos.
Em
outro plano, a Grande Loja da França, em 1935, concedeu completa autonomia a
todas as Lojas de Adoção, processo interrompido pelo início da 2ª. Guerra
Mundial, até que em 1945 fundou-se a UNIÃO MAÇÔNICA FEMININA DA FRANÇA,
que em 1959 passou a chamar-se GRANDE LOJA FEMININA DA FRANÇA, reconhecida
também pelo GRANDE ORIENTE DA FRANÇA.
Em
fevereiro de 1977, ficou constituída em Barcelona (Espanha) A GRANDE LOJA
SIMBÓLICA ESPANHOLA. Hoje em dia, é a Federação Maçônica mais importante na
Espanha, com Lojas e Triângulos espalhadas por todo o território, e trabalha
sob o auspício do Grande Oriente da Espanha. Inclusive há uma fusão das duas
Potências, denominada “Grande Loja Simbólica Espanhola – Grande Oriente
Espanhol Unido”, em 1999, seu Grão mestrado esteve ao mando de uma Mulher,
Ascención Tejerina.
A
partir de fins do século XIX, foram surgindo novas Potências na Espanha, além do Grande
Oriente Espanhol: Grande Oriente Ibérico, Grande Loja Simbólica Espanhola
do Rito Antigo e primitivo de Menphis, etc.
Os
principais intelectuais, periodistas, políticos conhecidos por sua militância
em prol dos Direitos Humanos e da igualdade irrestrita de gêneros passaram a
integrar os quadros das diversas Lojas, masculinas, mistas ou femininas.
Sofreram a mais terrível perseguição na longa ditadura de Franco, mas hoje a
Maçonaria Espanhola tem forte presença em todos os setores da vida espanhola.
É bom
lembrar que o Presidente da República é hoje um mui importante Maçom do Grande
Oriente Espanhol.
Em
1978, definitivamente, a Grande Loja da Espanha passa a ser uma Loja Mista.
Outras Potências Femininas foram surgindo, sob o auspício da Grande Loja
Simbólica da França.
Eis em
apertado resumo, a história da Maçonaria Feminina ou Mista na França e na
Espanha. Aos poucos, continuarei expondo aos amados, a situação da
presença feminina em outros países da Europa e América.
Lilión
Simões Larbanois, M.:
I.:  - uruguaio, em 8 de janeiro de 2008.
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importante:
Breves considerações
Por Hiran de Melo
O texto “O Sagrado Feminino
– A Presença da Mulher, parte I”, de Lilión Simões Larbanois, toca fundo em
quem já se perguntou sobre o lugar da mulher na Maçonaria. Ao ler suas
palavras, senti como se estivesse ouvindo um irmão mais velho compartilhar, com
carinho e reverência, uma história que por muito tempo ficou à margem. E é
nesse espírito que me permito refletir sobre esse testemunho à luz do
pensamento de Kennyo Ismail, que nos convida a olhar para a Maçonaria não como
um relicário de tradições imutáveis, mas como uma escola viva, em constante
aperfeiçoamento.
Ismail nos lembra que a
Maçonaria é, antes de tudo, uma ferramenta de lapidação pessoal e coletiva. E
se o objetivo é o aperfeiçoamento do ser humano, não há como justificar a
exclusão de metade da humanidade. O texto de Larbanois mostra que, mesmo diante
de séculos de resistência, as mulheres sempre buscaram esse espaço de
construção simbólica e ética. E não por capricho, mas por vocação.
A narrativa percorre os
caminhos da França e da Espanha, revelando como, aos poucos, as mulheres foram
conquistando seu lugar nas Lojas, seja por meio das Sociedades de Adoção, seja
pela fundação de Potências próprias. O que mais me tocou foi perceber que,
mesmo quando impedidas de participar formalmente, elas já estavam ali – nos
salões, nos debates, nos ofícios, nos tapetes que adornavam as catedrais. A
presença feminina sempre foi silenciosa, mas essencial.
As organizações maçônicas precisam
ser compreendidas em seu contexto histórico, mas também em sua vocação
transformadora. E é exatamente isso que o texto revela: uma tradição que,
embora nascida em tempos de exclusão, foi sendo moldada pela força da equidade.
A Maçonaria feminina e mista não é uma ruptura, mas uma evolução natural
daquilo que a Ordem sempre pretendeu ser – um espaço de luz, onde todos que
buscam o bem podem encontrar abrigo.
Ao final da leitura, senti
que o testemunho de Larbanois não é apenas uma crônica histórica. É um chamado.
Um lembrete de que o sagrado feminino não é uma concessão, mas uma presença que
sempre esteve entre nós, esperando apenas que lhe abríssemos as portas. E
quando o fazemos, a Maçonaria se torna mais inteira, mais justa, mais
verdadeira.
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