O Sagrado Feminino - A Mulher e a Maçonaria
APRESENTAÇÃO
Meus Irmãos! Não poderíamos apresentar este trabalho de pesquisa sem que recorrêssemos aos registros de documentos históricos elaborados por nossos ancestrais, subsídios estes, que foram destruídos após a elaboração da Constituição de Anderson de 1723. Porém, alguma parte desses acervos, foram catalogados por estudiosos do assunto e repassados aos nossos dias. Assim, o nosso objetivo principal é enriquecer a nossa cultura maçônica e a nossa espiritualidade, além de relembrar para todos nós o papel que a mulher exerceu e ainda desempenha na Maçonaria.
Falaremos sobre o legado deixado pela influência das duas vertentes da doutrina maçônica, ou seja, a Inglesa e a Francesa, das quais absorvemos e praticamos seus princípios filosóficos e ritualísticos, bem como, da criação de Lojas Maçônicas Femininas, Lojas Mistas e da Fraternidade Feminina no contexto dessa Ordem Tradicional.
Finalmente, abordaremos a presença da mulher no âmbito do Grande Oriente da Paraíba (GOPB) e, a sua contribuição em benefício da Maçonaria Paraibana.
DESENVOLVIMENTO
A
Maçonaria é herdeira das mais antigas tradições e dos mistérios da Idade Média
e por isso pôde resistir às provas a que foi submetida com o passar dos anos.
E, para entendermos melhor a participação da mulher dentro do seu contexto e,
acompanharmos o curso da história, a nossa pesquisa se reportará as “Antigas
Obrigações” ou “Antigos Deveres” (Old Charges), que são textos antigos,
contendo um resumo da história tradicional da Maçonaria, também denominadas de
“Antiga Constituição”. Assim, entre os mais remotos documentos que chegou até
nós estão os escritos: Estatutos SCHAW, o documento COOKE e o poema REGIUS.
Todos eles reuniam pensamentos comuns e o mesmo espírito corporativo.
Em 1815, o Magazine Freemason publicou um texto de um pequeno livro chamado “Manuscrito Régio”, descoberto por um colecionador de antiguidade, com 794 versos, que descreve em sua primeira parte, a tradição da corporação e na segunda parte, de conteúdo estritamente maçônico, ele não revela que a Ordem seja restrita aos homens. Pelo contrário, prova a presença da mulher, quando diz em seu item 10º, versos 203 e 204: “-... Que nenhum Mestre suplante outro, senão que procedam todos entre si como irmão e irmã. -” No item 9º do verso 351 e 352, destacamos: “- Amavelmente, servindo-nos a todos, como se fossemos irmão e irmã. -” Somente no verso 154 existe uma proibição, que é a de admitir servo como Aprendiz.
Existe também uma citação das Ordenações de “Corpus Christi”, em York, de 1408, que diz: “-... Nenhum leigo será admitido na Corporação, exceto apenas aqueles que exercem uma profissão honesta, mas todos sejam clérigos ou leigos e de ambos os sexos, serão recebidos se forem de boa reputação e de bons costumes. -” No mesmo manuscrito, se indica que os irmãos e irmãs deverão prestar juramento sobre o livro e várias vezes se fazem alusão à Dama, particularmente no Juramento do Aprendiz, onde ele jura obedecer ao “Mestre” ou à “Dama”.
Porém, em 1723, James Anderson, ministro da igreja Presbiteriana e mais uma comissão composta por 14 (quatorze) membros, ao reunir esses escritos para a elaboração da primeira Constituição Maçônica da era moderna que recebeu o seu nome, e, seguindo suas próprias convicções, tirou das mulheres essa participação na Ordem, que ocorria há centenas de anos. Enfim, não existe justificativa histórica plausível, para o processo de exclusão da mulher, por parte daquela comissão de notáveis da época.
Assim, nessa Constituição, no seu artigo n° 3 diz que a pessoa para ser admitida como membro de uma Loja Maçônica deveria ser: “- ... homem de bem e leais, nascidos livres e de idade madura e discretos, nem escravos, nem mulheres, nem homens imorais e escandalosos, mas de boa reputação. -” A Espiritualidade da Maçonaria: da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências (p. 233).
Em 1730, sete anos após a Constituição de Anderson, criou-se na França, a “Maçonaria de Adoção”, destinada a mulher e que possuía quatro graus. Seguiu-se depois, a Ordem de Moisés, na Alemanha, em1738, a Ordem do Machado, também na Franca e em 1747, foi criada a Ordem a dos Lenhadores, pelos Caronários da Itália.
Em 1738, com nova redação dada a essa Constituição de Anderson, ela sofreu pequenas modificações, mantendo, porém, em seu núcleo central, que os membros deveriam ser: “- ... homens nascidos livres (e não escravos), de idade madura e de boa reputação, robusto e sãos, sem deformação nem mutilação no momento de sua admissão, mas nem mulheres, nem eunucos.-” A Espiritualidade da Maçonaria: da Ordem Iniciática às Obediências (p. 233).
Em 1786, o Conde Cagliostro, iniciado em 1770, na antiga Maçonaria Egípcia, fundava a Loja “Sabedoria Triunfante”, no rito da chamada Maçonaria Egípcia, para homens e mulheres. Justificava ele na época que, se as mulheres foram admitidas nos Antigos Mistérios, não havia razão para excluí-las das Ordens Modernas.
Em 1929, A Grande Loja Unida da Inglaterra declarava que: “- suas Lojas e as Lojas particulares serão exclusivamente compostas de homens e que nenhuma Grande Loja manterá relações maçônicas com Lojas mistas ou com Corpos que admitam mulheres na qualidade de membros.-” A Espiritualidade da Maçonaria: da Ordem Iniciática às Obediências (p. 233).
Mesmo assim, nasceram no antigo regime, lojas femininas denominadas de “Adoção”, vinculadas as lojas azuis masculinas, sendo seus principais membros, as esposas e irmãs de maçons e possuíam seus próprios rituais. Em Londres encontramos Lojas Mistas dissidentes, que admitem mulheres e praticam o Rito Inglês Antigo ou o Rito Emulação.
Apesar de toda essa pressão exercida pela Maçonaria Inglesa, a Grande Loja da França constituiu Lojas Femininas e favoreceu a sua autonomia. Desse apoio, nasceu a Grande Loja Feminina da França, composta unicamente de mulheres, que se iniciavam entre si.
Essa Loja trabalha, principalmente, com o Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), e seus rituais seguem a maçonaria masculina. Sua autonomia foi reconhecida na convenção de 1945. Nos diversos países onde tem atuação, a Grande Loja Feminina da França, até 2004, congregava 130 (cento e trinta) Lojas e possuía 6.000 (seis mil) membros. Em 1770 foi criado o Supremo Conselho Feminino, também na França, estando organizado do 4º ao 33º graus.
A Ordem Maçônica Mista Internacional, denominada de “Direitos Humanos” (D.H.), localizada em Paris, inicia indistintamente homens e mulheres em pé de igualdade e trabalham o Rito Escocês Antigo e Aceito, sendo seus oficiais escolhidos entre os dois sexos.
A história também documenta a iniciação na Ordem Maçônica das seguintes mulheres: Elizabeth Aldworth, também conhecida como “Dama Maçom” e que teria sido iniciada em 1713, na Irlanda, na Loja do seu pai, o Conde Doneraile Saint-léger. Maria Deraismes teria recebido a Luz em 14 de janeiro de 1882, na Loja “Livres Pensadores”, jurisdicionada a Grande Loja Simbólica Escocesa da França, do Oriente de Pecq.
No dia 14 de março de 1893, Maria Deraismes fundou a Loja “Direitos Humanos” (D.H), e iniciou 16 (dezesseis) mulheres na Ordem, que foram elevadas e atingiram o mestrado. Registros contendo os nomes das mulheres que foram iniciadas em Lojas masculinas, constam na Brochura: L’Initiation féminine, editada pela Loja Suíça “Sub Rosa” (p. 95).
Como estamos observando através deste relato histórico, desde os primórdios da criação desta Arte Milenar, a exclusão da mulher da Ordem maçônica, somente aconteceu com a promulgação da Constituição de Anderson, pois, segundo as tradições das sociedades secretas antigas, tanto homens como mulheres, podiam ser iniciados na Maçonaria e seus mistérios.
No Brasil a primeira Loja Maçônica Mista, cognominada co-maçonaria, foi fundada no Rio de Janeiro/RJ, em 1919, sob a denominação de “Loja Maçônica Isis”, inspirada na Ordem Maçônica Mista Internacional. Em São Paulo encontra-se sediada a Grande Loja Maçônica Mista do Brasil, mantendo sob sua jurisdição, 29 (vinte e nove) Lojas.
Em 24 de maio de 1968, foi fundada a Sereníssima Grande Loja Simbólica da Franco Maçonaria Mista do Estado de São Paulo. Outras lojas maçônicas mistas ramificaram-se por todo território nacional, em algumas cidades como: Porto Alegre, Curitiba, Minas Gerais, Mato Grosso, Bauru, Paranaguá, Rio Grande do Saul, entre outras. Todas essas lojas mistas permanecem sob o patrocínio espiritual da Grande Loja de França, porém, são inspiradas nos princípios da maçonaria escocesa. O Grande Oriente da França (G.O.D.F.), fundado em 1773, mantém relações com as organizações maçônicas femininas.
O Grande Oriente da Paraíba (GOPB), não possui sob sua jurisdição, Loja Maçônica Feminina ou Mista, sendo o papel da mulher definido na Constituição da Ordem como Fraternidade Feminina, entidade para maçônica e sem caráter iniciático, com a finalidade de prestar serviços filantrópicos, beneficentes, educativos e culturais.
Conscientes das atribuições e das responsabilidades emanadas para essa Entidade, a Fraternidade Feminina dos Colibris, jurisdicionada ao GOPB, desenvolve um trabalho de grande relevância e tem contribuído, sobremaneira, para manter o elevado conceito da maçonaria junto a sociedade paraibana.
CONCLUSÃO
Meus Irmãos! Vivemos numa sociedade moderna, em que a mulher conquistou seu espaço nos segmentos jurídico, político, econômico, social, vão a guerra e realizam tão bem quanto os homens as mais árduas tarefas. Com essa inclusão em todos os segmentos da sociedade, no nosso entender, a Maçonaria deveria repensar os princípios que a regem, como demonstramos através dos fatos que deu origem a sua história, fatos estes, caracterizados, como sendo mais de origem política que espiritual, restituindo-lhes os direitos que lhes eram assegurados na “Antiga Constituição”, ou como a denominava James Anderson, de “CONSTITUIÇÃO GÓTICA”.
Concluímos, pois, a nossa pesquisa esperando haver contribuído para melhorar o nosso aprendizado. E aqui, fazemos nossas as idéias do jurista HENRI JULLIEN sobre o assunto discorrido: “... Anderson excluiu as mulheres porque, naquela época, estavam em uma situação de dependência em relação aos homens e que, depois que elas deixaram de ser servis, a razão de ser dessa exclusão não mais existe. ”
REFERÊNCIA
BAYARD, Jean-Pierre, A Espiritualidade da Maçonaria: da Ordem Iniciática Tradicional às Obediências, São Paulo, Ed. Madras, 2004
VADE
MECUM MAÇÔNICO, Grande Oriente da Paraíba, 1995
Misael Martins Marinho - Mestre
Instalado, em 30 de outubro de 2007.
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