O Sagrado Feminino - A Imaculada Conceição
No dicionário Aurélio, descobri que a palavra 'conceição' tem origem no latim 'conceptione', e se refere ao ato de conceber ou ser concebido. Ao estudar sobre a Virgem Maria, aprendi que o termo 'imaculada' significa isenta de pecado, perfeita. Assim, a expressão 'Imaculada Conceição' se refere à crença de que Maria foi concebida sem o pecado original, sendo, portanto, pura e santa desde o momento de sua concepção.
Sempre me questionei sobre as representações da Virgem Maria como uma figura negra. Afinal, Jesus, o Filho de Deus, é comumente retratado como branco. No entanto, a cor da pele não define a santidade de uma pessoa. As representações artísticas variam ao longo do tempo e das culturas, e a Virgem Negra é um símbolo muito importante em diversas tradições religiosas, especialmente para aqueles que se sentem marginalizados ou excluídos. Essa representação pode simbolizar a inclusão, a diversidade e a capacidade de todos de encontrar conforto e esperança na fé.
A profunda devoção brasileira a Nossa Senhora Aparecida me impulsionou a ir além da superfície. Eu precisava entender a razão por trás da simbologia da Virgem Negra. Logo descobri que a representação de Maria como uma virgem negra é um fenômeno global, presente em diversas culturas. Isso me mostrou que a devoção brasileira não era uma peculiaridade isolada, mas fazia parte de uma tradição religiosa mais ampla. Longe de ser uma invenção local, essa representação demonstra a rica diversidade cultural que moldou o Brasil.
Desde a minha infância, tenho devoção à Virgem Maria, pedindo sua intercessão por mim e por todos. Recentemente, fiquei sabendo de um debate antigo sobre a natureza exata da relação entre Maria e Jesus. Essa discussão, que ocorreu principalmente no século V, gira em torno do título 'Theotokos', que significa 'Mãe de Deus'.
Algumas denominações cristãs preferem o termo 'Cristotokos', que significa 'Mãe de Cristo', enfatizando a humanidade de Jesus. Essa discussão, embora complexa, não foi a causa principal das grandes divisões históricas entre os cristãos. A questão da Maternidade Divina de Maria é um dos muitos mistérios da fé que têm sido explorados e debatidos ao longo dos séculos.
Todas essas questões podem ser sintetizadas da seguinte forma: como uma virgem negra pode gerar o divino? Não se trata de gerar um deus qualquer, mas o próprio Deus. Reconheço que essa é uma questão complexa, que exige aprofundamento teológico. No entanto, ela nos concerne a todos os cristãos.
Para tentar elucidar esse mistério, sem pretender esgotá-lo, proponho uma reflexão fundamentada na tradição cristã, especialmente na rica herança dos terapeutas alexandrinos e de seus seguidores contemporâneos, frequentemente reunidos em grupos como a UNIPAZ.
Na tradição espiritual, a virgindade não se limita à ausência de relações sexuais, mas representa um estado de pureza interior, de abertura para o divino. É nesse estado de receptividade que Maria acolhe o Verbo de Deus, o Logos, em seu ser. Essa concepção espiritual da virgindade encontra paralelos na tradição gnóstica, onde a iniciação busca despertar a consciência divina presente em cada indivíduo. Assim, Maria se torna um modelo para todos aqueles que buscam a união com o divino.
A tradição revela que a pureza imaculada de Maria reside num reino de silêncio, onde a memória não existe. É nesse vácuo sagrado que a vida floresce, um jardim secreto onde a consciência e o amor se encontram. Cada um de nós carrega a semente desse jardim interior, e a jornada espiritual consiste em cultivá-lo, voltando-nos para a árvore da vida, a fonte primordial de toda existência.
O Padre Leloup nos lembra que, para os antigos, Maria representava um ideal de perfeição e felicidade originais, perdidos quando o ser humano se distanciou de sua essência divina. A dificuldade em aceitar a concepção de Maria como virgem e mãe de Deus reside, portanto, em nossa própria resistência a essa ideia de perfeição e unidade com o divino. Afinal, a virgindade, nesse contexto, não se limita à experiência física, mas sim a um estado de pureza e conexão espiritual que, em teoria, todos nós poderíamos alcançar.
Nos momentos de medo e incerteza, encontro refúgio e conforto na devoção à Virgem Maria. A oração do "Ave Maria", aprendida desde a infância, evoca em meu coração a certeza de ser amado e protegido por Deus. Ao me voltar para Ela, renovo minha confiança e me reconecto com minha identidade como filho de Deus. A presença maternal de Maria me inspira a dar um passo além de minhas angústias e a caminhar com mais fé e esperança. A descoberta de que o "Ser que É" habita em cada um de nós, como nos ensina a tradição espiritual, me fortalece na fé e me impulsiona a viver uma vida mais plena e conectada com o divino.
Voltemos nossa atenção à Imaculada Conceição. O anjo Gabriel anuncia a Maria: "O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra". A expressão "sombra" evoca a proteção e a santificação divinas que envolveram Maria desde a sua concepção, preservando-a do pecado original.
A união de Maria com José, um homem justo e piedoso, é um mistério que revela a profundidade do plano de Deus. José, como esposo casto, desempenhou um papel fundamental na história da salvação, protegendo e sustentando a Sagrada Família.
A perpétua virgindade de Maria, um dogma da Igreja, significa que ela concebeu Jesus por obra do Espírito Santo, sem que sua pureza fosse maculada. Maria, modelo de fé e obediência, continua a interceder por nós junto a seu Filho.
A informação revelada é que a sexualidade não impede a presença de Deus. Pelo contrário, é em nossa própria sombra que Deus gera a Sua luz.
A Tradição nos ensina que a experiência da sombra é fundamental para o nascimento da luz. É por isso que, muitas vezes, a Imaculada Conceição é representada na cor negra, simbolizando a maternidade divina que emerge das profundezas da sombra.
Como afirma o Padre Leloup em 'Caminhos da Realização', para a Tradição, Maria é o símbolo da terra, de todo o universo material, que acolhe em sua sombra, em seus limites, a semente da Luz.
Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, ao Vale do Mirante, 4 de dezembro de 2007 da Revelação do Cristo.
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