O Arco Íris Maçônico – Capítulo 18


Rito de Passagem

 

Resumo

 

Este artigo explora o papel do rito na Maçonaria como um instrumento de transformação pessoal e espiritual. O texto aborda a relação entre o rito e a tradição maçônica, mostrando como os ritos atualizam mitos ancestrais e perpetuam ensinamentos que remontam a tempos imemoriais. O autor alerta para os perigos de uma abordagem superficial do rito, enfatizando a necessidade de uma conexão profunda com o significado simbólico e espiritual das cerimônias. A jornada maçônica é apresentada como um caminho de constante evolução, onde o aprendiz é convidado a desvelar novos aspectos de si mesmo e a construir um templo interior cada vez mais luminoso.

 

Palavras-chave: Maçonaria, rito, iniciação, transformação, escuta, experiência do numinoso, simbolismo, construção do templo interior.

 

A professora Heloisa Szymanski ao receber os novos aprendizes ao ensino superior assim se pronunciou: ‘Temos uma tarefa em comum e dentro dela um instrumento poderoso que é o diálogo, mas um diálogo no sentido de Paulo Freire. Diálogo que começa com a escuta, com a compreensão de parte a parte. Esse deve ser o nosso maior compromisso: abrirmo-nos para uma escuta’.

 

Diversas tradições espirituais, como o judaísmo, enfatizam a escuta como um princípio fundamental. Na Maçonaria, essa prática se manifesta na obediência aos princípios da Ordem, que se inicia na escuta atenta, de coração e mente abertos. É a partir desse ouvir profundo que podemos compreender e agir com sabedoria.

 

No final da sessão magna de iniciação maçônica, o novo obreiro é presenteado com dois livros: um trata das regras da organização e outro, denominado Manual do Aprendiz Maçom, detalha os procedimentos para a realização de uma sessão maçônica. Raramente vejo maçons carregando o primeiro livro para as sessões de Loja, mas é interessante observar o zelo com que trazem o manual, que, entre outras coisas, registra o Rito do Grau.

 

Rito pode ser entendido como uma sequência de palavras, gestos e atos que, repetidos em uma cerimônia, estabelecem como a sessão deve ser conduzida e quais as palavras devem ser pronunciadas. Além de organizar a sessão, o rito é um processo simbólico que visa desenvolver no obreiro um conjunto de bons costumes, essenciais para sua jornada maçônica.

 

É importante lembrar que o rito atualiza mitos ancestrais e sagrados, perpetuando ensinamentos e símbolos que remontam a tempos imemoriais. No caso da Maçonaria, o mito da Construção do Templo serve como um paradigma para a busca constante pela perfeição moral e espiritual.

 

O manual descreve dois ritos: o rito para sessão econômica e o rito de iniciação ao grau. Este último é uma cerimônia que marca a passagem do profano para o sagrado, buscando propiciar uma experiência transcendental. Através dessa experiência, o iniciado vivencia uma transformação profunda, marcada por uma morte simbólica e um renascimento que o conduzem à iluminação

 

Na ausência da experiência com o Luminoso, o apelo à moralidade se torna central: a construção de templos à virtude e masmorras ao vício. No entanto, quando o obreiro não se conecta com o significado mais profundo do rito, a sessão econômica se torna uma obrigação, necessitando de reformas para atender às demandas da vida moderna. Assim, encontramos na Maçonaria tanto obreiros que desbastam pedras para a construção da loja, como aqueles que são verdadeiros construtores do TEMPLO, a morada de Deus.

 

A sessão magna de iniciação é uma cerimônia que nos convoca a transmitir conhecimentos e práticas inovadoras, contribuindo para a formação de novos maçons. Somos obreiros comprometidos com a preservação do mundo sagrado e com o desenvolvimento do mundo em que vivemos. O rito, em cada sessão de loja, renova esse compromisso, nos lembrando do nosso papel na construção de um futuro melhor.

 

A jornada maçônica levanta importantes questionamentos: Qual a responsabilidade do obreiro? Quais desafios encontrará? Que transformações vivenciará? A jornada maçônica é marcada por etapas, chamadas de Graus, cada uma exigindo mortes simbólicas e renascimentos, conduzindo o obreiro a uma constante evolução.

 

É lamentável encontrar irmãos em altos graus que, apesar de terem percorrido todos os ritos iniciáticos e se dedicado ao progresso maçônico, não vivenciaram a transformação espiritual e moral esperada. São como rios que, desconectados de sua fonte, não fluem em direção à vida eterna. Conhecem os rituais, mas não vivenciaram a essência da Maçonaria.

 

Em resumo, o que define uma potência maçônica regular e legítima não são os acordos formais, mas sim a sua capacidade de transformar vidas. Homens felizes, obreiros contentes e assíduos ao trabalho, que se tornem verdadeiras luzes para o mundo, guiando-o para um futuro mais justo e fraterno.

 

Exortação

 

Irmãos,

 

A jornada maçônica é um percurso iniciático que nos convida a uma constante transformação interior. A cada passo, somos chamados a desvelar novos aspectos de nós mesmos, a expandir nossos horizontes e a construir um templo interior cada vez mais luminoso.

 

O rito, presente em cada sessão maçônica, é mais do que uma mera sequência de palavras e gestos. É um portal que nos conduz a um universo simbólico, onde podemos encontrar as chaves para a nossa própria evolução. Ao vivenciarmos o rito com atenção e profundidade, conectamo-nos com uma tradição ancestral que nos transmite ensinamentos atemporais.

 

A escuta atenta é o primeiro passo nessa jornada. Na Maçonaria, essa escuta se manifesta na obediência aos princípios da Ordem, na atenção aos ensinamentos dos mestres e na busca incessante pela verdade interior.

 

O rito de iniciação, em particular, é um momento crucial nesse processo. É através dele que vivenciamos uma morte simbólica e um renascimento, abandonando o que somos para nos tornarmos aquilo que podemos ser. No entanto, a transformação não se encerra com a iniciação. Ao longo de toda a nossa jornada maçônica, somos convidados a repetir esse processo, a morrer para o velho e a renascer para o novo.

 

É preciso, porém, que nos lembremos de que o rito não é um fim em si mesmo. Ele é um meio para um fim: a nossa própria transformação. Se nos prendermos apenas à letra do rito, sem nos conectarmos com o seu significado mais profundo, estaremos perdendo uma oportunidade única de crescimento espiritual.

 

A Maçonaria nos convida a sermos construtores do Templo Interior. Esse templo não é feito de pedras, mas de virtudes como a sabedoria, a força, a beleza e a perfeição. Ao trabalharmos em nós mesmos, contribuímos para a construção de um mundo melhor, mais justo e fraterno.


Irmãos, sejamos, portanto, vigilantes em nossa jornada. Que a escuta atenta seja nossa companheira constante. Que o rito seja um portal para a transformação. Que o Templo Interior seja nossa obra-prima.

 

Que a Luz sempre nos guie!

 

Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, ao Vale do Mirante, 13 de dezembro de 2007 da Revelação do Cristo.  

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