O Arco Íris Maçônico – Capítulo 14

A Pedra Polida

 

Resumo

 

Este artigo explora a metáfora da pedra bruta sendo polida para revelar sua beleza interior. O autor apresenta a necessidade de desbastar as impurezas que obscurecem a natureza divina presente em cada indivíduo. A pedra bruta representa o ego, os apegos e os vícios que impedem a manifestação da verdadeira natureza. Através de citações de mestres espirituais como Eckhart e do Dalai Lama, o texto explora a importância do desapego, da compaixão e da busca pela iluminação.

 

Palavras-chave: pedra polida, autoconhecimento, desenvolvimento espiritual, desapego, compaixão, iluminação, maçonaria, budismo, cristianismo.

 

A Obediência convida seus obreiros a desbastar a pedra bruta, transformando-a em uma preciosa pedra polida. A cada obreiro é apresentada sua própria pedra bruta, um reflexo de si mesmo. Ao atenderem ao convite, os obreiros descobrem que não acrescentam nada à matéria-prima, mas, ao contrário, removem as impurezas que encobrem a pedra preciosa.

 

Mestre Eckhart enfatiza que o obreiro “nada acrescenta à matéria-prima, mas lhe retira alguma coisa, faz cair sob o seu cinzel todo o exterior e faz desaparecer as rugosidades e então pode resplandecer o que encontrava oculto lá dentro”.

 

O oculto é o novo homem, o homem interior, o nobre, o tesouro escondido no campo, ou, se preferir, o Cristo que habita em cada um.

 

Os obreiros cristãos sabem que São Paulo na sua Epístola aos Coríntios lembra que o homem exterior perece. O padre Leloup afirma que não poderia ser diferente “já que tudo que é composto, não poderia tardar em decompor-se”. O homem interior, a pedra polida, a pedra preciosa, o homem nobre, ao contrário, não cessa de renovar-se dia a dia.


Mestre Eckhart nos ensina que:

 

Ø Nenhuma alma racional está desprovida da Divindade. A semente divina habita em nós, embora possa estar oculta ou velada. Essa semente é inextinguível, ardente e luminosa, impulsionando-nos incessantemente para a Fonte de toda a vida.

 

Ø O homem nobre encontra seu ser, sua vida e sua plena felicidade unicamente em Deus, não no conhecimento humano, mas na contemplação e no amor divinos.

 

Ø Por isso, Nosso Senhor afirmou com sabedoria que a Vida Eterna consiste em conhecer a Deus como o único Deus verdadeiro, e não em um conhecimento autocentrado.

 

O que são as impurezas que devem ser desbastadas para revelar a pedra polida? Os manuais maçônicos apontam os vícios morais como um exemplo dessas impurezas. No entanto, esses vícios não esgotam a lista de impurezas que podem obscurecer a nossa natureza mais profunda. Aliás, se os vícios fossem a única impureza, os fariseus, tanto os antigos quanto os contemporâneos, já teriam alcançado a perfeição. Mas sabemos que não é esse o caso.

 

Tanto a tradição cristã quanto a budista apontam para impurezas mais profundas, cuja remoção exige um esforço cada vez maior. É justamente por essa razão que a Maçonaria se torna indispensável, reunindo homens dispostos a auxiliar seus semelhantes na busca pelo tesouro interior.

 

As impurezas mais profundas são aquelas derivadas do apego. Para aprofundar nossa compreensão sobre esse tema, podemos nos valer dos ensinamentos do budismo, em especial os de Tenzin Gyatso, o décimo quarto Dalai-Lama, nascido em 1935 em Takster, um vilarejo tibetano.

 

A raiz do sofrimento reside no apego. Seja ele às posses materiais, a ideias fixas, a prazeres transitórios, ao passado ou ao futuro, o apego nos aprisiona e gera sofrimento. A verdadeira liberdade reside no desapego. Somente aquele que ama sem se apegar encontra a verdadeira libertação. A compaixão genuína, por sua vez, floresce no solo do desapego. É preciso esvaziar-se de si mesmo para que a compaixão possa fluir livremente e permitir que os outros existam em sua plenitude.

 

A religião é um instrumento que nos auxilia a transformar pensamentos negativos e autodestrutivos, como a cobiça, o orgulho e a inveja, em virtudes como a generosidade, a humildade e a compaixão.

 

Não afirmo que o budismo seja superior a outras religiões. Cada um de nós deve escolher o caminho espiritual que mais ressoa com seu coração. A diversidade religiosa enriquece a experiência humana e nos permite encontrar diferentes caminhos para a espiritualidade.

 

Um coração humilde e compassivo é o objetivo de todas as religiões, e está ao alcance de todos, independentemente de suas crenças. É essa compaixão que nos define como verdadeiramente humanos.

 

Desenvolve-se em si mesmo a compaixão através da clara visão da impermanência das coisas e da prática da meditação. Cultivando um espírito calmo e pacífico, podemos realizar a vacuidade servindo a todos os seres.

 

Não é preciso ser monge para alcançar a iluminação. Ao servir aos outros, libertamo-nos do egoísmo e nos aproximamos do estado de iluminação, caracterizado pela compaixão e pela sabedoria.

 

A verdadeira compaixão surge quando, libertos do sofrimento pessoal, somos capazes de sentir a dor dos outros e agir para aliviá-la.


Só ao buscarmos o bem-estar dos outros é que encontramos a verdadeira felicidade. Compaixão e felicidade são faces da mesma moeda.

 

Após uma breve incursão pelo budismo, retornamos à nossa tradição cristã, reconhecendo que ambas as espiritualidades buscam cultivar a compaixão e a busca pelo bem comum. Desbastar a pedra bruta significa cultivar um enraizamento profundo em nossos valores e tradições, ao mesmo tempo em que mantemos uma mente aberta para as diferentes perspectivas e experiências humanas.

 

A tradição cristã também nos ensina que o apego, seja a coisas, a pessoas, a ideias ou a representações, é o primeiro obstáculo a ser superado para desvelar o oculto. Mestre Eckhart assegura que “mesmo o apego à nossa saúde, à nossa realização tão necessária aos primeiros momentos da vida espiritual, pode tornar-se um entrave”

 

Em Mateus 19:29, Jesus é categórico: aqueles que deixam tudo para segui-lo receberão muito mais do que perderam, inclusive a vida eterna. Essa promessa é um convite à renúncia e à confiança em Deus.

 

Este meu testemunho não poderia ser concluído sem fazer um apelo aos amados irmãos que, muitas vezes por um zelo excessivo pela Loja Maçônica, desenvolvem um grande apego a cargos, títulos, diplomas, aventais, alfaias, joias e outros paramentos. Outras vezes, magoam-se por não serem ouvidos, demonstrando assim um apego exacerbado ao ego.

 

É preciso compreender que tudo isso é inconstante, ilusão. Muitas vezes, são apenas fantasias que servem para mascarar a pedra bruta, tentando fazê-la parecer uma pedra polida. Essas névoas obscurecem a verdadeira essência que reside em cada um de nós.

 

Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, ao Vale do Mirante, 2 de dezembro de 2007 da Revelação do Cristo.


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