O Arco Íris Maçônico – Capítulo 21
O
sagrado e o profano na hermenêutica maçônica
Resumo
Este artigo explora a relação entre o sagrado e o
profano na experiência maçônica, com base na teoria de Mircea Eliade. A
iniciação maçônica é apresentada como um rito de passagem que marca a transição
do profano para o sagrado, simbolizada pela passagem pelas colunas B&J. O
artigo enfatiza a importância da distinção entre o sagrado e o profano na
construção da identidade maçônica e na experiência espiritual dos membros. A
Maçonaria é apresentada como um caminho para a transcendência, oferecendo aos
seus adeptos a oportunidade de vivenciar uma realidade mais profunda e
significativa.
Palavras-chave: Maçonaria, sagrado, profano,
iniciação, rito, Mircea Eliade, hierofania, juramento, sigilo, colunas B&J.
Na nossa iniciação maçônica, o excesso de
juramentos, incompatível com nossa formação cristã, somado ao desconhecimento
do termo 'profano', causou-nos grande estranheza.
Quanto ao número de juramentos, observamos uma
redução, estabilizando em um para cada grau iniciático. Isso se deve à
necessidade de manter os sinais referentes ao estado de 'Em pé e à Ordem'. No
Rito Alemão praticado no Grande Oriente da Paraíba, observamos a substituição
de 'eu juro' por 'eu prometo'. Essa mudança é significativa, pois 'prometer'
invoca apenas um testemunho humano, enquanto 'jurar' invoca a presença da
divindade.
É importante destacar que o tradicional juramento de
não revelar o que ocorre nas sessões maçônicas, especialmente presente no Rito
Escocês Antigo e Aceito, tem sido gradualmente substituído por recomendações.
Essa evolução demonstra uma crescente compreensão de que juramentos formais nem
sempre são a forma mais eficaz de garantir a confidencialidade.
Os detalhes dos rituais maçônicos, que antes eram
mantidos em segredo absoluto, hoje são facilmente encontrados em diversas
fontes, inclusive na internet. É importante ressaltar que os juramentos de
sigilo não visam ocultar os rituais em si, mas sim os conhecimentos específicos
de cada grau. Por exemplo, os mistérios da Câmara do Meio são reservados aos
maçons de graus mais elevados e não devem ser revelados aos Aprendizes e
Companheiros.
Um profano? Foi preciso estudar bastante para
entendermos um pouco o significado do termo.
Sugerimos a leitura das obras de Mircea Eliade e
Jesus Hortal como complemento para uma melhor compreensão dos temas abordados
neste texto. Ao longo da nossa análise, faremos referência aos conceitos desenvolvidos
por esses autores, adaptando-os à nossa própria interpretação. Essa abordagem
visa tornar a leitura mais dinâmica e acessível, sem a necessidade de longas
digressões sobre as diferenças entre as nossas ideias e as dos autores
originais.
É importante ressaltar que este não é um trabalho
acadêmico com o objetivo de defender uma tese, mas sim um testemunho pessoal
sobre a nossa experiência maçônica.
O homem percebe o sagrado quando ele se manifesta de
forma distinta do profano. Essa distinção fundamental é um dos pilares da
teoria religiosa de Mircea Eliade. O termo 'hierofania', cunhado por Eliade,
designa precisamente esse momento em que o sagrado se revela ao ser humano.
A história das religiões é construída a partir de
uma infinidade de hierofanias, que vão desde a manifestação do sagrado em
elementos da natureza, como pedras e árvores, até experiências místicas mais
complexas, como a encarnação divina. Essa diversidade de manifestações
demonstra a capacidade humana de perceber o sagrado em diferentes níveis de
realidade, desde o mais simples ao mais sublime.
Encontramo-nos diante do mesmo ato misterioso: a
manifestação de algo transcendente, de uma realidade alheia ao nosso mundo, em
objetos do cotidiano.
O Professor Mircea Eliade nos alerta que o homem
ocidental moderno experimenta um sentimento estranho diante de inúmeras
manifestações do sagrado: é difícil para ele aceitar que, para certos seres
humanos, o sagrado possa se manifestar em pedras ou árvores, por exemplo. Mas,
como sabemos, não se trata de uma veneração da pedra como pedra, de um culto da
árvore como árvore.
A pedra sagrada não é observada como uma pedra, mas
justamente porque é hierofania, pois revela algo que transcende a própria
pedra, manifestando o sagrado. O lugar onde os irmãos se reúnem semanalmente é
sagrado porque se apresenta como uma hierofania. Mircea Eliade enfatiza que
nunca é demais insistir no paradoxo que constitui toda hierofania, mesmo a mais
simples. Manifestando o sagrado, um objeto qualquer se transforma em algo mais,
mas continua sendo ele mesmo, pois permanece inserido no contexto cósmico.
Um Templo Maçônico não deixa de ser uma edificação;
aparentemente, nada o distingue das demais. Para aqueles que veem um Templo Maçônico
como sagrado, sua realidade imediata se transmuda em uma realidade
sobrenatural. Em outras palavras, para aqueles que têm uma experiência
iniciática maçônica, toda a Natureza é suscetível de se revelar como
sacralidade cósmica.
A busca por uma experiência profunda com o sagrado é
uma constante na história da humanidade. Os homens das sociedades antigas e os
maçons, por exemplo, compartilham essa busca. Para os maçons, o Templo é um
espaço sagrado onde essa conexão é cultivada. O sagrado, nesse contexto,
representa a realidade última, a perenidade e a força vital.
A oposição entre o sagrado e o profano, muitas vezes
entendida como a distinção entre o real e o ilusório na tradição hindu, explica
o desejo profundo do maçom de participar plenamente da realidade e experimentar
seu poder.
Neste texto, nosso objetivo é explicar por que o
maçom se esforça para permanecer o máximo possível em um universo sagrado e,
consequentemente, qual a sua experiência total da vida em relação à experiência
do homem que não cultiva uma espiritualidade, do homem que vive em um mundo
dessacralizado.
É importante lembrar que a dessacralização do mundo
é uma descoberta recente na história do espírito humano. Não é objetivo deste
texto mostrar como o homem moderno dessacralizou seu mundo e assumiu uma
existência profana.
Para nosso propósito, basta constatar que a
dessacralização é característica da experiência do homem moderno, o qual, por
essa razão, sente uma dificuldade crescente em reconectar-se com as dimensões
existenciais do homem religioso das sociedades antigas. Dimensões estas que a
Maçonaria conserva e oferece ao cidadão de bem.
Uma vez explicitados os nossos principais
referenciais teóricos relativos ao sagrado e ao profano, ver Bibliografia já referendada
no início do texto, passaremos a tratar das questões que despertam o interesse
do maçom.
Ao entrarmos em uma loja maçônica, encontramos o
sagrado portal constituído pelas colunas B&J. É o limiar que separa o
sagrado do profano. Para o maçom, diferentemente do homem profano, o espaço não
é homogêneo. Para o maçom, o Templo pertence a um espaço distinto da rua em que
se encontra.
A porta que se abre para o interior do Templo marca
uma ruptura, um limiar que separa e simboliza a passagem entre os dois espaços
e, consequentemente, os dois modos de ser: o profano e o sagrado.
As Colunas B & J são, ao mesmo tempo, a
fronteira que divide os dois mundos e o portal que os conecta, um lugar
paradoxal onde a passagem do profano para o sagrado se efetiva.
As Colunas B&J – o portal – mostram de maneira
imediata e concreta a ruptura do espaço; por isso, sua importância na Maçonaria
é grande, pois se trata tanto de um símbolo quanto de um veículo de passagem.
Lembrando que o limiar tem seus guardiões, físicos e
espirituais, que proíbem a entrada tanto aos adversários humanos quanto às
potências corruptoras. Possui também o guardião moral, que é o compromisso
assumido pelo obreiro de não revelar aos profanos os sinais, palavras e toques
que atestam as qualidades maçônicas e permitem a abertura da porta do Templo.
Aliás, são esses os segredos da Maçonaria que não devem ser revelados. Quanto
às demais coisas, uma descrição é suficiente.
O segredo maçônico, em essência, protege o segredo
das Colunas J&B, manifestando-se como um compromisso de não revelar o
código de acesso.
Exortação
Que ao deixarmos o Templo, cada um de nós se sinta
fortalecido em sua missão de construir um mundo melhor. Imbuídos dos princípios
da fraternidade, da igualdade e da liberdade, sejamos agentes de mudança,
trabalhando incansavelmente para expandir o reino da luz e reduzir as forças do
caos.
Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado,
Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, ao Vale do Mirante, 30
de dezembro de 2007 da Revelação do Cristo.
Comentários
Postar um comentário