O Arco Íris Maçônico – Capítulo 1

O Caminho da Liberdade

 

Resumo

 

O presente trabalho explora a busca humana pela conexão com uma realidade espiritual mais profunda, contrastando a natureza material com a espiritual do homem. Através da análise de diversas tradições, como a bíblica, a budista e a maçônica, o artigo demonstra como a humanidade, desde tempos remotos, tem buscado transcender as limitações impostas pela sociedade e pela própria natureza humana. A noção de pecado original, a importância da oração e a busca pela gnose são temas centrais na discussão. O autor argumenta que organizações iniciáticas, como a Maçonaria, oferecem um caminho para a auto realização espiritual, proporcionando um espaço sagrado para a reflexão e o desenvolvimento pessoal.

 

Palavras-chave: espiritualidade, tradição, Maçonaria, pecado original, gnose, autoconhecimento, libertação.

 

A Tradição ensina que não só de pão vive o homem. Nesta fórmula está subjacente a visão antropológica em que o homem possui, além da natureza material a ser alimentada, outra natureza que também vive, e vive além do pão material.

 

Esta natureza oculta é a fonte da informação que anima o homem e todos os seres vivos. Na linguagem bíblica diríamos que se trata do sopro de Deus. É o sopro de Deus que anima e vivifica o homem. Na linguagem da Tradição diríamos que se trata do 'pneuma hagion' – sopro santo, espírito santo.

 

O Rabi Jesus costumava apontar para essa natureza, afirmando que o Reino de Deus está nas crianças. Essas palavras, embora misteriosas à primeira vista, revelam uma profunda verdade. Viver no Reino de Deus é estar conectado à fonte original da informação. Na linguagem da Tradição, é viver voltado para a vida eterna. É assim que as crianças vivem naturalmente.

 

Com o tempo, porém, as pessoas tendem a se afastar dessa fonte original, priorizando a informação humana. Essa mudança não é fácil, pois a sociedade, a família e a escola exercem uma forte influência nesse sentido. Se a criança não se adaptar à informação humana, pode ser reprimida.

 

É sempre bom lembrar que, quando o Rabi Jesus orava, ele se isolava, mesmo da companhia dos amigos. Orar, na linguagem do Rabi Jesus, é estar voltado para o Pai. É também, para os obreiros da Ordem, fazer funcionar uma oficina iniciática. Além disso, orar significa estar atento às pequenas coisas, conforme a linguagem dos monges budistas.

 

A palavra sagrada é atenção. É estar atento, alerta, focado nas manifestações da Ordem Divina.

 

Diante dessa busca por conexão com o divino, o homem volta-se para as religiões, porque estas se apresentam como uma porta para trazer de volta o olhar da criança que habita em cada um de nós. Na linguagem bíblica, isso significa religar o homem a Deus. É um reconhecimento implícito de que a informação humana desliga o homem da fonte da vida que não é alimentada pelo pão material.

 

A proposta de toda organização religiosa é religar o homem ao pão da vida que vem do sopro original. Daí porque o pecado original nada mais é do que simplesmente perder o foco da informação divina e voltar-se para a informação produzida pela civilização humana.

 

Na linguagem bíblica, isso significa a escolha pela árvore do conhecimento. Religar-se a Deus significa voltar-se para a outra opção: a árvore da vida. O casal mítico original escolheu a árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Essa é a herança imposta pela sociedade e referida pelas religiões como o pecado original. Não que cada criança nasça pecadora, mas a sociedade impõe esse fardo como condição para sua aceitação.

 

O homem ao longo das civilizações tem procurado alternativas para este dilema entre a árvore da vida e a árvore do conhecimento. Dentre as alternativas criadas encontram-se as organizações iniciáticas que instituíram ambientes sagrados, embora os seus membros não as considerem religiões, mas sociedades que contemplam religiosidades. A Maçonaria é um exemplo tardio de tais organizações.

 

A ideia original baseia-se na crença de que a separação regular e periódica entre o profano e o sagrado proporcionaria um portal, o veículo, que permitiria ao obreiro voltar-se para o Grande Arquiteto do Universo.

 

É comum encontrar, nas organizações iniciáticas, duas colunas representativas da passagem. Poderíamos chamá-las de portal. Ao permanecer entre as colunas e utilizar a palavra para expressar uma compreensão profunda, o iniciado experimenta a liberdade de expressão e a autonomia para seguir seu próprio caminho, dispensando a proteção dos vigilantes das colunas do norte e do sul. É um momento tão especial, em que o obreiro está voltado para o oriente, que poucos se sentem aptos para solicitar.

 

Em organizações iniciáticas tardias, é comum o uso indevido da palavra. Nesses grupos, o obreiro utiliza a palavra para expressar opiniões passageiras, que podem gerar divisões.

 

Na Maçonaria, a ênfase é conduzir a vida pautada em atitudes éticas, ou seja, viver construindo um templo à virtude e uma masmorra ao vício.

 

A principal crítica às alternativas iniciáticas tardias reside na questão da graça. Segundo os críticos, a liberdade do pecado original seria alcançada por esforço humano, e não por graça divina.

 

Os críticos esquecem que a civilização humana, por sua própria natureza, impulsiona o homem a buscar o conhecimento. Portanto, voltar-se para a árvore da vida não depende apenas do esforço individual, por mais dedicado que seja. A prática da oração é fundamental nesse caminho, conhecido na tradição bíblica como salvação.

 

A proposta de Jesus, assim como a de Buda, aponta para um caminho de autoconhecimento e libertação. Ambos os mestres convidam seus seguidores a transcender a realidade material, percebendo a natureza ilusória de muitas de nossas crenças e apegos.

 

Através de práticas espirituais, como a meditação e a contemplação, o indivíduo pode aprofundar sua conexão com uma realidade mais profunda. Essa busca interior é frequentemente descrita como um 'trabalho de ascese', que visa purificar a mente e o coração, permitindo assim o acesso a uma sabedoria superior.

 

A gnose, nesse contexto, representa a compreensão direta e intuitiva dessa realidade mais profunda. É um conhecimento interior que transcende a razão e a lógica. Ao alcançar a gnose, o indivíduo experimenta uma transformação radical, uma espécie de 'ressurreição em vida', onde se liberta das limitações do ego e se une ao divino.

 

Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, 29 de novembro de 2007 da Revelação do Cristo.

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