Mundo Místico – Capítulo 5


Dizendo Sim

 

Em um sonho, Melquisedec assiste a um sermão do mestre Eckhart. O ambiente é um convento medieval e o mestre se dirige a um público feminino. Ele discorre sobre a presença do Logos encarnado entre nós.    Afirma ele que a Palavra Eterna não assumiu este ou aquele homem, mas sim a natureza humana livre e indivisa, que ali se apresentava pura, sem traços individuais; pois a forma simples da humanidade é desprovida de traços individuais.

 

Nas palavras do mestre ecoam pensamentos dos antigos gregos relativos às formas perfeitas e às suas emanações na concretude dos corpos humanos. As mulheres suspiram de compreensão e contentamento. Sorrisos largos e acolhedores preenchem o ambiente.


A natureza humana, continua o mestre, foi tomada pela Palavra Eterna de modo simples, sem traços. A imagem do Pai, que é o Filho eterno, tornou-se igualmente a imagem da natureza humana. Pois é tão verdadeiro Deus ter-se feito homem quanto o homem ter-se tornado Deus.

 

A tensão aumenta no auditório. O mestre, prestes a anunciar o caminho para sermos filhos de Deus, declara: "Se quiserdes ser filhos de Deus, é necessário que vos separeis e vos afasteis de tudo o que traz diferenciação em vós. Se desejardes ser sem diferença, então vos afastai do não. Pois há na alma uma força (ou atuação) separada do não, e como ela nada tem em comum com coisa alguma, nela nada há senão Deus: nesta força, Ele brilha sem encobrimento.


Uma forte tristeza, como um véu de dor, toma conta das almas femininas. O caminho era simples, mas a caminhada, muito longa e árdua, superava em muito as regras da Ordem. Não bastava vestir-se de forma igual, cortar o cabelo conforme o padrão, alimentar-se no mesmo horário ou orar na mesma capela.


Seria necessário libertar-se das diferenças tão estimadas pelo ego. Não mais buscar nas leituras, no trabalho, na ascese, na oração, na doação e assim por diante, o caminho que leva à casa do Pai. Seria necessário dizer sempre sim à vontade de Deus.

 

Um sorriso infantil encobriu o semblante de Melquisedec. A vontade de Deus, talvez pudesse ser sentida no movimento do rio Sambation, conforme lhe revelara sua amada amiga Anadominun.

 

As águas do rio estavam em movimento de criação. Sua coloração era transparente, mas de uma transparência indescritível, pois era nessa transparência que o Ser podia ver-se em total nudez (sem diferenciação).

 

Anadominun profetiza: quando tua alma tocar as águas calmas e tranquilas, então serás abençoado, renovado e purificado como em um batismo divino (um com o Pai).

 

Purifica o teu coração no leito do rio (nas profundezas da alma), para que assim possas chegar à fonte (ao Pai). Escuta o som que as águas fazem ao tocarem as pedras e os obstáculos que encontram em seu caminho.

 

Acordado, mas ainda imerso nas névoas do sonho, Melquisedec sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ouvir as palavras de Iohanan: 'Pai, assim como eu e tu sois um, assim quero que eles sejam um'. A luz da alvorada, que se infiltrava pela janela, iluminava o antigo pergaminho onde estava inscrita a oração do Logos encarnado.

 

Poeta Hiran de Melo - Mestre Instalado, Cavaleiro Rosa Cruz e Noaquita - oráculo de Melquisedec, 19 de novembro de 2010 da Revelação do Cristo.


Anexo: Elementos da Mística

 

Eckhart propõe uma união profunda entre o divino e o humano, onde a Palavra Eterna assume a natureza humana em sua forma mais pura, sem traços individuais. Essa união é vista como uma dualidade paradoxal: Deus se torna homem e o homem se torna Deus.

 

O mestre indica que para ser um filho de Deus, é preciso transcender as diferenças individuais e conectar-se com a força interior que é pura e divina. Essa jornada exige um afastamento de tudo que separa e diferencia.

 

As mulheres no auditório sentem uma profunda tristeza ao perceberem a magnitude da tarefa. A renúncia às diferenças e a busca pela unidade com o divino exigem uma transformação radical.

 

Anadominun, a amiga de Melquisedec, revela o significado do rio Sambation como um símbolo da purificação da alma. Ao mergulhar nas profundezas do ser, a alma se liberta das impurezas e se aproxima da fonte divina.

 

O capítulo se encerra com a citação da oração de Jesus, que reforça a ideia da união perfeita entre o Pai e o Filho e a aspiração de que todos os seres possam experimentar essa mesma unidade.

 

A frase "dizer sempre sim à vontade de Deus" é central no texto. Ela expressa a submissão total à vontade divina e a renúncia ao próprio ego.


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